Eu disse coisas como: "é para o seu bem, você vai ficar boa, meu amor!" Eu tinha faíscas nos olhos. Eu tinha fiapo nos dentes: "eles vão tratar muito bem de você, acompanhe os rapazes, não seja malcriada que não lhe farão nenhuma ruindade".
Eu repeti: "acredite em mim, meu filho, sua mãe precisava se tratar, ela estava mal, muito mal, você era pequeno, não entendia o que se passava". Ele perguntou: "está vendo aquela lua no céu, meu pai?" e gritou: "você vai me pagar muito caro".
Eu sei que fiz o que pude, o melhor que pude, por ela e por ele, por todos eles, mas a ingratidão é moeda fácil na face da terra, por isso não carrego culpas comigo e viveria duzentos anos não fosse a luz intensa que jamais se apaga, eterna noite é minha vida, essa abelha zunindo nos ouvidos, esse choro de mulher que não estanca, rasgando a terra e o próprio ventre.
Ele disse: "calma, pai", com uma doçura infinita na voz que reconheço como sendo de meu filho, "não grite, não reaja, acompanhe os rapazes que eles são do bem". Repetindo, com muito carinho: "eles não farão nenhuma ruindade, meu pai, você vai por bem ou por mal".
Meu filho tinha faíscas nos olhos, tinha fiapo nos dentes quando disse: "olhe a lua, meu pai, veja como está linda, e me diga se alguém precisa de testemunha mais sincera".
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