domingo, 29 de dezembro de 2019

Coisas de cronista. - Atos Paulo (Goiânia / GO)



Um cronista que se preze deve andar com uma caderneta nas mãos para pegar qualquer pensamento que possa lhe surgir a mente, vale anotar um pensamento que puxe uma crônica futura, ou um fato que dê em crônica.
Se por ora enfrentamos o dilema da falta de assunto, que é o maior assombro da carreira de um cronista, escritor ou jornalista, outrora enfrentamos a vinda de um assunto em momento inoportuno, e eles chegam em momentos diversos. Outro dia estava no banho, quando me veio uma crônica pronta na cabeça, anotei duas palavras no espelho do banheiro e terminei meu banho, desliguei o chuveiro e corri para o quarto para conseguir voltar ao banheiro antes que as palavras desaparecessem, mas vi em rastros escorregadios por todo o espelho, minha crônica morrendo e escorrendo, por água a baixo, digo, por espelho a baixo. Num outro dia estava em um carro quando um passarinho teve o seu triste fim decretado por um para-brisa trincado, sem ter nem mesmo a chance de se espernear, e isso me despertou um sentimento de melancolia que, com os recursos necessários, renderia uma boa crônica, mas as palavras foram ficando nos quilômetros que se passaram até que eu pudesse pegar em uma caneta.
Desde então venho me prevenindo, não há nada que me separe de meu caderno da capa azul, isso tem me ajudado bastante, pode até duvidar, mas nesse momento estou escrevendo sentado no chão de um beco que nunca tinha visto.

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