Minha tese é a seguinte: o que falta para qualquer relacionamento
dar certo é o apelido. O homem e a mulher — ou o homem e o homem e a mulher e a
mulher, ninguém aqui tem preconceito — devem providenciar apelidos um para o
outro assim que o relacionamento der sinais de que vai ser sério. Não valem
apelidos já existentes, de infância. Os dois devem se dar apelidos novos, só
deles. Pichuchinha. Gongonzongo. Não importa que sejam ridículos.
O apelido é uma forma de você tomar posse de outra
pessoa. Dos dois anularem suas identidades anteriores e assumirem outras, só
deles. Por isso a troca de apelidos entre namorados deveria ter a solenidade de
um batizado, sem padre nem testemunhas. Deveria ser um sacramento secreto, um
ritual particular de apropriação mútua, para toda a vida. Uma união só é
indissolúvel com apelidos. O único amor verdadeiro é o amor com apelido.
— Sei não. Romeu e Julieta...
— Não tiveram tempo de ser "Ro" e
"Juju".
— O Duque e a Duquesa de Windsor?
— "Bobsky" e "Bubsky." Li em algum
lugar.
O importante é não esperar para se darem apelidos. Achar
que com o tempo os apelidos virão. É um erro pensar que uma união feliz produz
apelidos carinhosos. É o contrário: apelidos carinhosos produzem uniões
felizes.
Claro, há sempre o perigo de um apelido entre casais ser
usado para chantagem. Um homem chamado de "Tiquinho" em segredo pela
mulher jamais se separará dela com medo que ela espalhe o apelido e explique
sua origem.
E há casos pungentes.
— Bem, posso lhe pedir um favor?
— Qual é?
— Em vez de "Chururuca"...
— Sim?
— Pode ser "Morenão"?
— "Morenão"?!
— Ninguém vai ficar sabendo.
— Mas você nem moreno é!
— Eu sei. Mas eu prefiro "Morenão".
— Tá bem.
Ela passaria a chamá-lo de "Morenão" quando
estivessem sozinhos. Mas com uma ressalva:
— Sem efeito retroativo.
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