– aconteceu de
verdade – A operadora telefônica não parava de ligar.
O telefone vivia
ocupado. Milagrosamente, entre uma conversa e outra, a sogra colocou
rapidamente o fone no gancho e, sem nenhum trinado, no mais completo silêncio,
escutou uma voz do além, um timbre plangente do outro lado:
– Alô, alô, senhora
Clara, senhora Clara? Não desligue. Pode falar agora?
– Pronto! Sim, sou
eu. Posso falar. Quem é?
– É da operadora de
sua linha. A conversa será gravada. O número do protocolo é 458438. Gostaria
que repetisse?
– Não. O que deseja?
– Mudar o plano da
senhora.
– Mas o plano é
ótimo: ilimitado. Não preciso mudar.
– Mas, senhora, é um
plano antigo.
– Estou satisfeita,
muito obrigada, não pretendo mudar nada.
– Senhora Clara? –
Sim!
– A senhora não
entendeu, nós desejamos mudar. A operadora deseja mudar. A senhora usou 9 mil
minutos no último mês no aparelho fixo.
– Tudo isso? Então
estou aproveitando. – Sim, só que está nos trazendo prejuízo.
– Que horror se
dirigir assim a um cliente. – Senhora, não desligue, por favor, raciocine
comigo: a senhora usou 9 mil minutos de 44 mil. É um recorde, não tem
precedente.
– Nem falo muito, as
minhas amigas é que me telefonam na maioria das vezes.
– Não, senhora, com
todo o respeito, um comitê de 30 teleoperadores foi escalado numa operação
chamada de “Fidel Castro” para lhe ligar ao mesmo tempo porque ninguém
conseguia a linha desocupada. A força-tarefa durou 20 dias, das 8h às 22h, sem
cessar...
– Pois é, será que a
linha estava com algum problema? – Não minha senhora, o problema é a senhora, a
senhora é o nosso problema.
– Não pode falar
comigo desse jeito. E não gosto de Fidel Castro, é um ditador. Por que logo
Fidel Castro? – Os discursos dele são intermináveis, senhora.
– Preciso desligar,
alguém pode estar querendo falar comigo.
– Senhora Clara,
tenha compaixão da operadora. Você fica quase cinco horas em média por dia no
telefone. Não há nenhum parâmetro igual no mercado. Oferecemos um celular
grátis em troca, qualquer aparelho, que pode ser retirado em nossas lojas.
– Não gosto também de
celular. Prefiro a privacidade doméstica.
– Senhora, o que
podemos propor para demovê-la do plano? Está excessivamente oneroso.
– Uai, meu plano não
é ilimitado?
– Estou buscando
explicar que até o que é ilimitado tem limites.
– Passe bem, tenho
mais coisas a resolver do que perder o meu tempo no telefone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário