terça-feira, 5 de abril de 2022

Como calcular o tempo de uma vida? - Gilberto Amendola

 



Como calcular o tempo de uma vida?

Desconta-se o tempo do cafezinho e as intervenções desnecessárias acerca do clima.

Subtraia a mensagem de WhatsApp respondida por educação. A escolha das figurinhas ou emojis também entram nessa conta.

Idas ao banheiro, claro. Idas demoradas ao banheiro. Leituras de banheiro ou banhos sem consciência ambiental.

Intervalos para o cigarro. Conversas entrecortadas pela fumaça. 

Horários eleitorais gratuitos – não importa o partido. Discursos inflamados.

O trabalho, sempre o trabalho. O trabalho e suas horas mortas.

As digressões sobre a morte de algum famoso.

O pôr do sol ou o cair da tarde. O barquinho que vai sabe-se lá para onde.

A ioga ou a esteira. As horas na academia também precisam ser descontadas.

Comentários sem nenhuma base sobre guerra ou pandemia. O tempo que se perde negando a ciência.

Consultas ao saldo de conta corrente via aplicativo de banco – quando eles estão funcionando (ou não).

Respostas negativas ao serviço de telemarketing da operadora de celular. E as dezenas de tentativas de cancelamento de algum serviço. Falar com robô é tempo perdido.

As ponderações sobre o número de estrelas que um motorista de aplicativo merece. A conversa política/eleitoral com taxistas.

Séries que perderam o sentido depois da primeira ou segunda temporada.

A espera do delivery de pizza. Reclamar com o delivery da pizza que não chega também leva tempo.

Leitura de textão em redes social e/ou problematizações subsequentes (tretas e threads). Brigas em rede social.

Explicação de piadas. A contextualização de piadas. A irritação causada pela falta de interpretação de texto.

A ansiedade que antecede o resultado do exame. Qualquer exame.

A expectativa das férias. As próprias férias. A frustração com o fim das férias. 

A expectativa do sexo, o sexo em si e o depois do sexo. Todo o sexo mais ou menos bom também entra na conta.

O tempo que demora para um e-mail ser respondido.

As horas de sono e de insônia. O tempo que perdemos tentando decifrar sonhos que não querem ser decifrados.

E o tempo que, sob efeito de alguma coisa um pouco mais forte, você se achou ótimo. Ninguém é ótimo sempre.

Faz a conta. 

Quanto é que sobra? 


Pôr do sol sobre a cidade de Ascalão, em Israel. Foto: Amir Cohen / Reuters



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