Algumas coisas a gente nem precisa experimentar para saber que “vai dar ruim”.
Jantar Miojo com uma taça de Dry Martini do lado, vai dar ruim. Tirar chefe em amigo secreto, dormir sem meia no inverno ou viajar na poltrona do meio, vai dar ruim.
Eu e você, hahaha, seria muito, mas muito, ruim.
A sequência da sequência do filme que você já amou um dia, vai dar ruim. O cartão de crédito piscando na sua carteira, fazer carinho em um leão enjaulado ou comer bolacha crocante em cima da cama, vai dar ruim.
Eu e você, vixe!
Um mergulho no Tietê vai dar ruim. Enfiar vários crayons pelo nariz, tomar água direto de um chafariz ou gritar gol no meio da torcida adversária, vai dar ruim.
Eu e você, Ave-Maria!
A reeleição do Jair, vai dar ruim. Cutucar feridas abertas com alfinete, dançar balé no parapeito ou chacoalhar uma nota de cem no centro da cidade, vai dar ruim.
Eu e você, não tem cabimento, nunca teve.
Aquela coxinha de anteontem sozinha no balcão da padaria, vai dar ruim. Esquecer o guarda-chuva no ônibus, deixar a louça acumulando na pia ou gastar um salário mínimo em loteria, vai dar ruim.
Eu e você, na real, nem existe. Pode apostar.
Deixar o computador aberto na mesa do trabalho, vai dar ruim. Mandar tudo para o espaço, acender uma fogueira no meio do mato ou usar o secador de cabelo debaixo do chuveiro, vai dar ruim.
Eu e você, nem que a vaca tussa. Ou cante uma ópera.
Atravessar a rua de olhos vendados, vai dar ruim. Panela de pressão bufando e nervosa, acender velas perto da cortina ou arrumar briga na academia, vai dar ruim.
Eu e você, colega, pode chamar a cavalaria.
Rodízio de caipirinha no verão, vai dar ruim. Perna de pau na seleção, nariz para fora da máscara, dois dedos em uma tomada, vai dar ruim.
Eu e você, minha amiga, seria o caos na Terra, o fim dos dias, o meteoro chegando, o boleto atrasado, a caspa no paletó, o dedo podre, a saideira da saideira da centésima saideira, o apagão, a seca no sertão, o maremoto, o furacão, o pontapé na porta, a boca no formigueiro, o frango de um goleiro, a dor de cabeça de um carcereiro, o dente que a fada contrabandeou, a turbulência no aviãozinho de papel, o cheiro do pecado, a raiva dos coitados, o rascunho no papel de pão, a última volta do peão, o apocalipse, o calipso, a rumba, o tcha tcha tcha, puro rock and roll e carnaval.
Eu e você, amém, seria bom demais. Mas vai dar ruim.