Luiza Pannunzio/Folhapress
Quando constatei que a obra " A Sútil Arte de Ligar o F*oda-se" se encontra, há bastante tempo, no top de vendas de livros tanto em Portugal quanto no Brasil, pareceu-me que este súbito interesse dos nossos povos era merecedor de reflexão.
Em princípio, sou favorável a que nós, portugueses e brasileiros, abandonemos a nossa conhecida obsessão pelo rigor e adotemos um estilo mais descontraído e despreocupado. Julgo que nos faria bem. Ter sempre tudo pronto a tempo e horas, cumprindo prazos e orçamentos, tem as suas vantagens, mas também cansa —e até deve fazer mal à saúde.
Chega de ser tão certinho e responsável. Vamos aprender mais sobre a sutil arte de ligar o f*da-se. O problema é que essa nova atitude, esse “estou-me cagandismo” à moda de Alfred Jarry, que eu saúdo, parece ainda reticente, circunstância que o título do livro parece testemunhar.
Das duas, uma: ou estamos, de fato, nos lixando para tudo, e falamos desbragadamente, ou mantemos alguma da nossa velha postura tensa, e nos pomos com estrat*gemas ridícul*s p*ra evit*r choc*r pess*as s*nsíveis. Abraçar as duas disposições ao mesmo tempo é que não faz sentido. Ou ligamos o f*da-se sem curinga ou não estamos a ligá-lo de todo.
Intrigado, fui investigar o autor que tinha a desfaçatez de vir ensinar portugueses e brasileiros a serem mais relaxados e descobri que se tratava de um americano chamado Mark Manson.
Absurdo, comentei baixinho. Um americano. Vem do país do empreendedorismo e da competição nos ensinar a ligar o f*da-se? A gente é que inventou o ligar o f*da-se. Ninguém o liga como nós, temos a melhor ignição de f*da-se do mundo. O que sabe um americano sobre ligar o f*da-se?
Um país que foi à Lua sabendo perfeitamente que lá não há praia nem chope. Fazer o quê? Há uma página na Wikipedia em inglês com a palavra “malandragem”, para ilustrar os estrangeiros sobre o conceito. E depois eles vêm nos ensinar a ligar o f*da-se? Não queria acreditar. Por isso, continuei a pesquisa e descobri que Mark Manson é casado com uma brasileira chamada Fernanda Neute.
Ah, bom. Agora percebi. Manson descobriu o que é ser brasileiro (que é o mesmo que ser português vezes 20) e resolveu escrever um livro sobre o assunto. Como obteve as ideias em segunda mão, não as absorveu totalmente e ainda escreve f*da-se. Mais uns anos e ele se educa. Força, Fernanda.