As únicas pessoas que viviam uma vida livre de preocupações eram os idiotas, os ricos e os ricos idiotas —um grupo surpreendentemente vasto.
Havia, sim, a necessidade oposta de ensinar as pessoas a se preocuparem. Durante toda a minha infância e juventude, a minha avó se dedicou a tentar que eu deixasse de ser um idiota e passasse a me preocupar com as coisas. Quanto a conseguir que eu me preocupasse foi bem-sucedida; no projeto de evitar que eu fosse idiota teve menos êxito.
Neste momento, estou bastante preocupado com a quantidade de pessoas que desejam que eu não me preocupe. Uma rápida pesquisa no Google devolve milhões de resultados a quem procura deixar de se preocupar e nenhum a quem pretende se preocupar mais. Quem queira se inquietar não obtém ajuda. E quem quer deixar de se preocupar recebe auxílio de pessoas que, claramente, não se preocuparam em delinear um plano sensato e credível.
Há dois grandes grupos de teóricos da despreocupação: os que sugerem que a gente respire e os que apelam a que a gente se acalme. Os primeiros ignoram que a maneira mais rápida e fácil de ficarmos livres de todas as preocupações é, precisamente, deixar de respirar; os segundos desconhecem por completo a história. Nunca, em qualquer tempo ou lugar, alguém se acalmou por lhe terem sugerido que se acalmasse. O efeito costuma ser, aliás, agravar a irritação, normalmente porque quem apela à calma o faz com uma superioridade bonacheirona de quem teve uma ideia que, sendo excelente, era também óbvia e, mesmo assim, escapou-nos.
Julgo que as únicas vezes que perdi a calma foi na sequência de apelos à calma.
Ao mesmo tempo que se defende a fuga às preocupações, louva-se a sabedoria antiga, o que não faz sentido. Como creio que deixei claro, os antigos sabiam que: 1. As preocupações tinham várias vantagens; 2. A melhor maneira de aliviar temporariamente algumas preocupações não é com livros de autoajuda caros. É com duas garrafas de vinho barato.
Luiza Pannunzio/Folhapress
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