quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Sempre anunciaram o fim do mundo, mas agora não é a Bíblia, é a comunidade científica - Gregorio Duvivier

André Dahmer

Toda a nossa sociedade se baseia na ideia de que a gente herdou o mundo dos nossos antepassados, e tudo se organiza para honrar o seu legado. Nosso nome carrega o nome deles, as ruas carregam o nome deles, os estádios, as cidades, as doenças, as ideias. "I seed ded people", dizia o garoto de "O Sexto Sentido" e ele não estava maluco. As leis que nos governam foram escritas, maioria, por gente que já morreu. Os discursos que nos moldara? Não tá mais aqui quem falou. O Brexit foi votado por gente que não estará mais viva quando ele ocorrer. "Os vivos são e serão cada vez mais governados pelos mortos", dizia Augusto Comte, um morto que nunca imaginou que governaria o Brasil.

Wendel Berry, poeta e ambientalista foi quem primeiro propôs a inversão: "Nós não herdamos o mundo de nossos antepassados, nós pegamos emprestado dos nossos filhos". O mundo é uma casa alugada e o proprietário acabou de nascer. Normal que esteja revoltado com o estado em que ela se encontra. A geração anterior pensa que é dona do mundo, mas é o cupim.

"Todo millennial é um mimado! o jovem tem tudo de mão beijada e nunca tá feliz."

Por tudo, eles querem dizer: um smartphone, um wifi e uma  patinete elétrica. Obrigado por tudo, foi muito legal da parte de vocês, mas acho que o jovem trocaria o iPhone X por alguma perspectiva de futuro.

A  Greta Thunberg não deveria ter substituído a "paixão" pela "raiva", reclamou o Eduardo Jorge, que continuou: "Mais compaixão e menos ressentimento vai nos ajudar mais". Admiro a autoestima desse político que teve menos de 1% de intenção de voto à vice-presidência e continua  ensinando estratégias de comunicação. Tivesse mais humildade,  estaria se perguntando porque o discurso de Greta comove tanta gente e o dele não.

É fácil manter a placidez quando você vai morrer. A raiva é um direito alienável de uma menina que ver o mundo acabar antes dela.

Sempre anunciaram o fim do mundo, mas agora não é a Bíblia, nem Nostradamus, é a comunidade científica ---------as mesmas pessoas excêntricas que dizem que a Terra é redonda. Negar o apocalipse eminente é uma forma de terra planismo.

Trump, Bolsonaro, Putim, todos devem morrer antes do mundo.  O fim do mundo, pra eles, é indiferente. Não vão estar aqui mesmo. Abaixo os mortos e todos os que querem que o mundo morra junto com eles.

Todo poder às pirralhas, aos secundaristas, aos recém-nascidos, a todos que não têm planos de morrer tão cedo.


Catarina Bessell/Folhapress

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