Omar Sy. Ele é Samuel, o pai de Gloria,
vivida por Gloria Colston Foto: Mars Films/Poisson Rouge Pictures
Sucesso de público na França, Uma Família de Dois fez 3,5 milhões
de espectadores no país. “Nos demais mercados em que foi lançado fez mais 4,5
milhões, o que significa que já foi visto por 8 milhões de pessoas”, conta numa
entrevista por telefone, de Paris, o diretor Hugo Gélin. Algum parentesco com
Daniel Gélin, que foi um astro na França nos anos 1940 e 50? “Era meu avô.”
Hugo, de 37 anos, admite que o avô despertou seu amor pelo cinema. “A família
tem mais atores, mas foi ele, sim.”
Uma
Família de Dois estreia nesta quinta, 29, nos cinemas brasileiros. É um remake
de Não Aceitamos Devoluções, produção mexicana de 2013 que bateu recordes no
país de origem. “Fui bem fiel à história original, mas, se você comparar os
dois, vai ver que há uma diferença muito grande. Até o desfecho é o mesmo, mas
o filme mexicano puxa para o dramalhão e eu quis fazer meu filme mais leve,
divertido.” E, claro que ter Omar Sy como protagonista faz toda diferença.
“Escrevi o filme para ele, pensando nele. Se Omar não tivesse aceitado, não
creio que conseguisse fazer o filme com outro ator.”
Embora se trate de um remake, Hugo Gélin defende seu filme como
‘bem pessoal’. “Sou pai de um menino de 7 anos, que tive muito novo. A
paternidade inesperada fez de mim outro homem, mais responsável. Omar (Sy)
nunca havia feito um pai no cinema. Achei que seria um desafio interessante
para ele. Esse bon vivant que, de repente, muda sua vida porque tem uma filha.
Situar o personagem no universo do cinema - é dublê - lhe permitiu liberar a
imaginação em cenas de ação e humor. E os personagens secundários também foram
ganhando colorido. O tio gay, a mãe ausente que volta.”
Impossível não pensar em Kramer Vs. Kramer, de Robert Benton, que
venceu vários Oscars em 1979. Meryl Streep desaparece, deixando o encargo de
criar o filho para Dustin Hoffman. Ele se desdobra para ser esse misto de pai e
mãe - ‘pãe’. Quando está numa boa, Meryl reaparece para brigar na Justiça pela
guarda do filho. “O filme foi outra referência tão fundamental quanto o
original mexicano. Há quase 40 anos, Kramer Vs. Kramer foi pioneiro ao flagrar
mudanças na estrutura familiar”, diz Gélin. Em Uma Família de Dois, a mãe volta
e briga pela filha. Sucedem-se as reviravoltas. Por mais leve que Hugo Gélin
tenha querido ser, o clima pesa. Tem até, olha o spoiler, morte.
Embora
a entrevista, a seu pedido, seja feita em francês, Hugo arrisca algumas
palavras em português. “Tive uma babá portuguesa, meu melhor amigo é português
e eu passei muitas férias em Portugal”, explica. O amigo é cineasta e ele
escreveu e produziu A Gaiola Dourada, sobre uma comunidade de portugueses em
Paris, para Rubens Alves dirigir. Ama o Brasil. Adolescente, integrou um
intercâmbio de estudantes durante o governo do socialista François Mitterrand.
Embrenhou-se na floresta amazônica, foi levar medicamentos aos índios, conheceu
de perto sua cultura.
“Ao
transpor o filme mexicano para a França e colocar Omar Sy no centro da
história, acho que estou deslocando o eixo para o ‘outro’, num momento em que
há tanta discriminação. Ter estado em Portugal, no Brasil foi muito importante
para mim. Mesmo que de forma periférica o filme busca passar esse entendimento,
esse respeito por quem é diferente de nós.”
'Não há
quem não se renda ao carisma de Omar Sy'
Hugo
Gélin, diretor de Uma Família de Dois, concorda com o repórter - Omar Sy é uma
força da natureza. “Ele transborda a tela com sua vitalidade e sorriso. Deve
haver algum maluco que não, mas não conheço ninguém que não se renda ao carisma
de Omar.” Filho de mãe mauritana e pai senegalês, Omar nasceu em Trappes,
Yvelines, em janeiro de 1978. Fez carreira como dublador e humorista, em 2000,
estreou no cinema.
Tornou-se
um fenômeno quando Intocáveis, que protagonizou com François Cluzet, virou o
filme francês mais visto de 2011, com 11 milhões de ingressos vendidos,
totalizando a maior renda da história do cinema na França.
Omar
Sy fez também Chocolate, que integrou o Festival Varilux no ano passado. Foi
parar em Hollywood, mas o papel (pequeno) em Jurassic World - Mundo dos
Dinossauros não dá conta de suas personas. E falando em inglês, ele também
perde muito a graça.
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