Malvados - André Dahmer
Permissão para sonhar - Gregorio
Duvivier
Tive
uma ideia louca. Talvez até subversiva. Sei que vocês vão dizer que não vai dar
certo, mas peço a permissão para sonhar.
Imaginem um sistema político em que o povo escolhe seus representantes. Calma. Sei que parece loucura, mas nesse sistema a vontade de cada cidadão teria o mesmo peso. Podíamos chamar esse peso da vontade de cada cidadão de "voto". É uma palavra bonita. Voto. O representante que tivesse mais votos seria o "eleito" –podíamos chamar esse processo todo de "eleições". Aqueles que não fossem eleitos podiam esperar –vou chutar um tempo– quatro anos para tentar se eleger de novo. Se perdessem outra vez, esperavam por mais quatro anos. E daí por diante. Caso o representante cometesse um crime, seria deposto e convocaríamos novas eleições. Caso contrário, não.
Calma que o sonho não acabou. Nesse sistema louco, a Igreja seria separada do Estado. Ninguém citaria a Bíblia para justificar uma lei –até porque não haveria só cristãos no país. As funções de pastor, padre ou babalorixá não poderiam ser exercidas ao mesmo tempo em que a função pública, para não haver confusão. As igrejas, que também são empresas, pagariam impostos como qualquer empresa. Para designar esse Estado, pensei na palavra "laico" –que não rima com nada, mas é uma palavra linda.
A parte mais louca está por vir. Ninguém teria menos direitos por ser mais pobre. Ninguém precisaria pagar para ter saúde e ninguém estaria condenado a morrer por falta de dinheiro. A expectativa de vida, nesse regime louco, não seria proporcional à conta no banco. A qualidade da escola de uma criança não dependeria do salário dos seus pais. Mulheres –imagina só– ganhariam a mesma coisa que os homens e teriam os mesmo direitos sobre o próprio corpo. Claro, também haveria mulheres no poder. Sim, inclusive ministras. Por que não?
As pessoas fariam sexo com quem quisessem e usariam as substâncias que bem entendessem –o corpo seria delas, e o que esse corpo ingeriria ou penetraria não seria assunto do Estado. Chamaríamos esse conceito louco de "liberdade". Talvez esteja indo longe demais, mas ninguém seria preso por ser negro, pobre, gay ou "trans", e ninguém seria condenado por ser do jeito que nasceu.
Para batizar esse regime louco, uma palavra grega, que significa "o povo no poder": democracia. Sei que não vai pegar por aqui. Mas que era lindo, era.
Imaginem um sistema político em que o povo escolhe seus representantes. Calma. Sei que parece loucura, mas nesse sistema a vontade de cada cidadão teria o mesmo peso. Podíamos chamar esse peso da vontade de cada cidadão de "voto". É uma palavra bonita. Voto. O representante que tivesse mais votos seria o "eleito" –podíamos chamar esse processo todo de "eleições". Aqueles que não fossem eleitos podiam esperar –vou chutar um tempo– quatro anos para tentar se eleger de novo. Se perdessem outra vez, esperavam por mais quatro anos. E daí por diante. Caso o representante cometesse um crime, seria deposto e convocaríamos novas eleições. Caso contrário, não.
Calma que o sonho não acabou. Nesse sistema louco, a Igreja seria separada do Estado. Ninguém citaria a Bíblia para justificar uma lei –até porque não haveria só cristãos no país. As funções de pastor, padre ou babalorixá não poderiam ser exercidas ao mesmo tempo em que a função pública, para não haver confusão. As igrejas, que também são empresas, pagariam impostos como qualquer empresa. Para designar esse Estado, pensei na palavra "laico" –que não rima com nada, mas é uma palavra linda.
A parte mais louca está por vir. Ninguém teria menos direitos por ser mais pobre. Ninguém precisaria pagar para ter saúde e ninguém estaria condenado a morrer por falta de dinheiro. A expectativa de vida, nesse regime louco, não seria proporcional à conta no banco. A qualidade da escola de uma criança não dependeria do salário dos seus pais. Mulheres –imagina só– ganhariam a mesma coisa que os homens e teriam os mesmo direitos sobre o próprio corpo. Claro, também haveria mulheres no poder. Sim, inclusive ministras. Por que não?
As pessoas fariam sexo com quem quisessem e usariam as substâncias que bem entendessem –o corpo seria delas, e o que esse corpo ingeriria ou penetraria não seria assunto do Estado. Chamaríamos esse conceito louco de "liberdade". Talvez esteja indo longe demais, mas ninguém seria preso por ser negro, pobre, gay ou "trans", e ninguém seria condenado por ser do jeito que nasceu.
Para batizar esse regime louco, uma palavra grega, que significa "o povo no poder": democracia. Sei que não vai pegar por aqui. Mas que era lindo, era.
Mafalda - Quino
As pessoas que não concordam comigo - David Coimbra
São
irritantes essas pessoas que não concordam comigo. Ah, a democracia é assim. E
eu com isso? A democracia é ótima como regime político. Quanto a todo o resto,
não mesmo. Não me venha com democracia.
Ah, o debate de ideias sempre é interessante. Interessante para quem? Eu não me interesso pelo debate de ideias. Interesso-me pela concordância. Concordou? Amigo. Não concordou? Tiau.
Ah, as divergências fazem crescer. E quem é que disse que quero crescer? Quero ficar bem assim como estou. Quer crescer divergindo? Vá divergir de outro.
Uns perguntam: “Você queria unanimidade? Queria que todos gostassem de você?”. Claro que sim! É evidente que quero ser unanimidade e é evidente que quero que todos gostem de mim. Você não gosta? Não gosto de você também. Tiau.
Um dia li um artigo de algum cara que se acha inteligente falando sobre a bolha do Facebook. As pessoas criam bolhas no Facebook, escreveu o cara , e nessas bolhas todos pensam da mesma forma.
Isso é maravilhoso. Preciso descobrir uma bolha legal e entrar nela. Infelizmente, conheço várias pessoas que pensam diferente de mim, alguns até amigos. Eles ficam postando textos completamente imbecis. Sinto vontade de pular da sacada a cada vez que leio.
Alguém aí talvez proteste: “Você está dizendo que os textos são imbecis só porque não concorda com eles!”.
Lógico! É exatamente isso. Imagina se eu diria que é imbecil um texto com o qual concordo. O imbecil seria eu.
Mas sei por que eles postam esses textos. É para me provocar. Para fazer com que reclame: “Que coisa bem imbecil você acabou de escrever! Como é que você emburreceu dessa forma? Antes, quando você concordava comigo, você era esperto”.
Só que não farei isso. O que farei será rolar os olhos nas órbitas, rilhar os dentes, respirar fundo e me calar. Serei ponderado. Serei... democrático (argh). Mas, na verdade, o que queria dizer é que essa opinião é estúpida. Por quê? Porque é.
A velha história: Se você for discutir com todos os idiotas do mundo, você não fará mais nada na vida. Assim, por absoluta falta de tempo, vou silenciar. Seguirei minha sina. Seguirei carregando a minha cruz. Seguirei fazendo de conta que respeito as oposições, quando, na verdade, as desprezo.
Ou então usarei de ironia. Você percebeu que estou sendo irônico o tempo todo, não?
Claro que sim, claro que percebeu. Você é inteligente. Afinal, você pensa como eu.
Ah, o debate de ideias sempre é interessante. Interessante para quem? Eu não me interesso pelo debate de ideias. Interesso-me pela concordância. Concordou? Amigo. Não concordou? Tiau.
Ah, as divergências fazem crescer. E quem é que disse que quero crescer? Quero ficar bem assim como estou. Quer crescer divergindo? Vá divergir de outro.
Uns perguntam: “Você queria unanimidade? Queria que todos gostassem de você?”. Claro que sim! É evidente que quero ser unanimidade e é evidente que quero que todos gostem de mim. Você não gosta? Não gosto de você também. Tiau.
Um dia li um artigo de algum cara que se acha inteligente falando sobre a bolha do Facebook. As pessoas criam bolhas no Facebook, escreveu o cara , e nessas bolhas todos pensam da mesma forma.
Isso é maravilhoso. Preciso descobrir uma bolha legal e entrar nela. Infelizmente, conheço várias pessoas que pensam diferente de mim, alguns até amigos. Eles ficam postando textos completamente imbecis. Sinto vontade de pular da sacada a cada vez que leio.
Alguém aí talvez proteste: “Você está dizendo que os textos são imbecis só porque não concorda com eles!”.
Lógico! É exatamente isso. Imagina se eu diria que é imbecil um texto com o qual concordo. O imbecil seria eu.
Mas sei por que eles postam esses textos. É para me provocar. Para fazer com que reclame: “Que coisa bem imbecil você acabou de escrever! Como é que você emburreceu dessa forma? Antes, quando você concordava comigo, você era esperto”.
Só que não farei isso. O que farei será rolar os olhos nas órbitas, rilhar os dentes, respirar fundo e me calar. Serei ponderado. Serei... democrático (argh). Mas, na verdade, o que queria dizer é que essa opinião é estúpida. Por quê? Porque é.
A velha história: Se você for discutir com todos os idiotas do mundo, você não fará mais nada na vida. Assim, por absoluta falta de tempo, vou silenciar. Seguirei minha sina. Seguirei carregando a minha cruz. Seguirei fazendo de conta que respeito as oposições, quando, na verdade, as desprezo.
Ou então usarei de ironia. Você percebeu que estou sendo irônico o tempo todo, não?
Claro que sim, claro que percebeu. Você é inteligente. Afinal, você pensa como eu.
Mafalda - Quino
Surra - Luis Fernando Verissimo
Winston
Churchill não era flor que se cheirasse. Ou, como diria o Millôr na língua
dele, “a flower you could not smell”. Recomendou que se usasse gás venenoso
contra os curdos - como, anos depois, fez o Saddam - e era um entusiasta da
guerra química. Mas isso foi na sua juventude, quando atrocidades contra povos
exóticos não causavam tanta discussão na metrópole. Em vez de enforcado, Churchill se transformou no grande
estadista, cujas atitudes e frases ajudaram a resistir ao nazismo e inspiraram
uma nação no que ele chamou de sua melhor hora. Seus charutos, suas bochechas
de bebê e, acima de tudo, sua retórica triunfante sobreviveram a todas as
lembranças de um passado não tão glorioso e lhe garantiram uma posteridade
confortável.
Mas a frase mais famosa de Churchill não tem nada a ver com seus discursos de guerra. É aquela em que ele afirma que a democracia é o pior sistema de governo disponível, com exceção de todos os outros. O velho aristocrata, ele mesmo um exemplo do ideal ciceroniano de poder de casta, dizendo que a democracia é falha, insuficiente, irritante, confusa, difícil e provavelmente antinatural, mas ainda é melhor do que todas as suas alternativas possíveis. Uma frase que precisa ser repetida de tempos em tempos, principalmente em países como o Brasil, que já experimentaram as alternativas, mas às vezes parece que as esqueceram. Porque aqui desesperar da democracia vai se tornando cada vez mais tentador. O que evidenciam os números crescentes do Bolsonaro nas pesquisas de opinião, entre outros agouros assustadores.
A democracia vem acumulando derrotas nos últimos tempos entre nós, e torna-se mais precária a cada revelação sobre a corrupção epidêmica que parece não poupar ninguém. A cada nova desmoralização de políticos e política, a nossa democracia apanha mais um pouco. Há quem diga que o fato de ainda estar de pé, mesmo que só formalmente, é um bom sinal: em outros tempos ela já estaria na lona e a alternativa estaria nas ruas. Mas a surra continua. Como nas lutas de boxe em que só um lado apanha, sem defesa, sem reação possível - e o pior, sem torcida -, não é um espetáculo bonito.
Mas a frase mais famosa de Churchill não tem nada a ver com seus discursos de guerra. É aquela em que ele afirma que a democracia é o pior sistema de governo disponível, com exceção de todos os outros. O velho aristocrata, ele mesmo um exemplo do ideal ciceroniano de poder de casta, dizendo que a democracia é falha, insuficiente, irritante, confusa, difícil e provavelmente antinatural, mas ainda é melhor do que todas as suas alternativas possíveis. Uma frase que precisa ser repetida de tempos em tempos, principalmente em países como o Brasil, que já experimentaram as alternativas, mas às vezes parece que as esqueceram. Porque aqui desesperar da democracia vai se tornando cada vez mais tentador. O que evidenciam os números crescentes do Bolsonaro nas pesquisas de opinião, entre outros agouros assustadores.
A democracia vem acumulando derrotas nos últimos tempos entre nós, e torna-se mais precária a cada revelação sobre a corrupção epidêmica que parece não poupar ninguém. A cada nova desmoralização de políticos e política, a nossa democracia apanha mais um pouco. Há quem diga que o fato de ainda estar de pé, mesmo que só formalmente, é um bom sinal: em outros tempos ela já estaria na lona e a alternativa estaria nas ruas. Mas a surra continua. Como nas lutas de boxe em que só um lado apanha, sem defesa, sem reação possível - e o pior, sem torcida -, não é um espetáculo bonito.
O fascismo politicamente correto - Walcyr Carrasco
Vivo numa democracia. Como escritor, é difícil ter certeza disso. Acho que todo artista em algum momento teve a mesma sensação. Pessoas comuns também. A proibição em torno do que deve ser ou não falado é de lascar. As crianças são usadas como pretexto para proibições que nada têm de democráticas. Existe o veto claro, por meio de leis batalhadas pelas ONGs que se dizem bem-intencionadas. Mas também o realizado por grupos, professores e até pais de alunos que, eventualmente, criam situações constrangedoras para os mestres. Houve um caso, há anos, em que uma professora adotou, num colégio, um livro em que dois adolescentes tinham uma relação sexual – a primeira e mais romântica de suas vidas. Um pai exaltado reclamou. A saída encontrada pela direção foi arrancar a página da cena em que se realizava o ato, de todos os livros já comprados. Mas Shakeaspeare não mostra, em seu inesquecível Romeu e Julieta, dois adolescentes passando uma noite juntos? Escrevo livros infantojuvenis. Nunca me aventurei a falar de sexo por um simples motivo: a maioria dos pré-adolescentes sabe bem mais do que eu poderia escrever!
Professores cedem à pressão. Escolhem livros que não ofereçam riscos de reclamação. Da mesma maneira, o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe colocar as crianças em situações constrangedoras. Aqui no Brasil, seria impossível filmar O exorcista, já que a menina possuída pelo demônio vive situações de violência. Outro dia, estive num debate em que, como sempre, a televisão foi duramente atacada.
– Como vocês podem mostrar situações de violência? E as crianças?
Resolvi falar das histórias de fadas:
– Joãozinho e Maria são abandonados pelos pais numa floresta. Atraídos pela bruxa má, Maria se torna escrava doméstica e Joãozinho é preso em cárcere privado, para engordar. Será, então, devorado pela bruxa. Engana a canibal e mostra um ossinho de frango no lugar do dedo, para fingir que continua magro. Finalmente, ela resolve assá-lo. Com a ajuda de Maria, Joãozinho empurra a bruxa para dentro do forno. Apoderam-se de suas riquezas e voltam para os pais, que os recebem felizes.
Quando terminei, houve um silêncio. Ninguém pensara nesse e noutros contos de fadas, muito mais fortes que qualquer novela de televisão. Concluí:
– Mas o conto é instrutivo. Ajuda a criança a lidar, simbolicamente, com sentimentos de rejeição familiares. A saber que há um mundo difícil a enfrentar lá fora. Do ponto de vista do inconsciente, é rico em possibilidades.
As ONGs e os defensores do politicamente correto se apoiam em questões que julgam ser objetivas. Dividem o mundo entre bom e mau. Confundem o que é complexo com o nocivo. Mesmo a Cinderela, tão querida do público infantil, não pode passar por uma interesseira, que se casa baseada no status do príncipe? Hummm... mas a questão é que esse é um conto de formação, que novamente lida com a rejeição e a existência de qualidades intrínsecas ao ser humano, aquelas que sobressaem mesmo quando negadas. O inconsciente não funciona como uma receita de bolo, em que determinados ingredientes levam aos mesmos resultados. É um sistema complexo e simbólico. Vivenciar a realidade por meio da ficção é uma preparação para a vida adulta e para este mundo, que não anda nada fácil.
As restrições já deixaram o campo da teoria. Além de livros inscritos num “índex educacional”, há escolas que aboliram o Dia das Mães e dos Pais. Argumentam que, com as novas famílias, divórcios, recomposições, deve ser comemorado o Dia da Família. Não é errado de um ponto de vista teórico. Poderia ser incorporado no calendário, assim como o Natal – que, para mim, sempre foi o dia da família, mas enfim... Defendo o Dia das Mães e dos Pais. É uma maneira de festejar um vínculo emocional, de reforçar os laços de amor, de dizer novamente: “Eu te amo”.
Estruturar o mundo por meio do politicamente correto é criar proibições que afetam as obras artísticas. Mais que isso, as relações com as crianças. De que adianta criá-las numa redoma, se o mundo lá fora está cheio de lobos maus e um dia será preciso enfrentar alguns deles?
Antes eu achava que o “politicamente correto”era apenas uma grande bobagem. É mais sério: tornou-se um exercício de controle, travestido de boas intenções. Sob a capa de democrático, revive anseio por um mundo autoritário e, por que não dizer, fascista.
Rafael Corrêa
Democracia Não É Trocar Um Governo Ruim Por Um Menos Pior - José Saramago
José Saramago, português, vencedor do prêmio Nobel de literatura, questiona o que é a democracia:
“Tudo se discute neste mundo. Menos uma única coisa que não se discute, a democracia. A democracia está aí, como se fosse uma espécie de santa no alta, de quem já não se espera milagres. Mas está aí como uma referência: ‘a democracia’. E não se repara que a democracia que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada porque o poder do cidadão, de cada um de nós, limita-se na esfera política – repito, na esfera política – a tirar um governo de que não gostamos e pôr outro que, talvez, venhamos a gostar. Nada mais!
Mas as grandes decisões são tomadas numa outra esfera e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, as OMCs, os Bancos Mundiais, as OCDEs… nenhum desses organismo é democrático. E portanto, como é que podemos continuar falando em democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo. Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Os respectivos povos? Não!
Eu acho que é preciso continuar a acreditar na democracia, mas numa democracia que o seja de verdade. Quando eu digo que a democracia em que vivem as atuais sociedades deste mundo é uma falácia, não é para atacar a democracia, longe disso. É para dizer que isto a que chamamos democracia não o é, e que, precisamos aperceber da diferença. Não se repara que a democracia não é tirar um governo de que não gostamos e pôr outro que, talvez, venhamos a gostar. Colocar no poder um menos pior. Não, isso não é democracia. Democracia é luta. Luta por nenhum direito a menos. Por direitos iguais, por igualdade sociais. Nós não podemos continuar a falar de democracia no plano puramente formal. Isto é, que existam eleições, um parlamento, leis, etc. Pode haver um funcionamento democrático das instituições de um país, mas eu falo de um problema muito mais importante, que é o problema do poder. E o poder, mesmo que seja uma trivialidade dizê-lo, não está nas instituições que elegemos. O poder está noutro lugar.
O drama está aí. O poder econômico sempre existiu, o poder político sempre esteve ligado a ele, sempre existiu um concubinato entre esses dois poderes. Mas os cidadãos estão aqui embaixo. E como eles poderiam expressar suas angústias, dúvidas e necessidades junto a este poder econômico? Em princípio, seria através do mesmo governo que serve de correia de transmissão. Não podemos ter qualquer esperança de que esses governos digam ao poder econômico que as condições que eles nos impõem são terríveis. Há um problema, que na minha opinião, é fundamental da democracia: ou ela transcende o poder da ‘bolha’ tendo uma ação fora dela, ou vamos continuar a viver na ilusão do mundo democrático”. (José Saramago em ‘Lancelot’ – 1997 e Agência Carta Maior em23/08/2004)
Benett
Estela May
Rita
Beto
Ziraldo
Celso Augusto Schröder
João Bosco
Luis Gê