sábado, 12 de junho de 2021

Os comunistas - Marcelo Rubens Paiva


Quando vim morar em São Paulo em 1974, descobri não ser popular no colegial da escola religiosa, que de religiosa tinha muito pouco; não era escolhido para nada, sabia escrever e tocar violão, o que não interessava a muitos. Me juntei ao grupo chamado de “comunistas”. 

Ele se politizou graças às professoras de História e Filosofia, comunistas de carteirinha e presas na ditadura, e ao de Antropologia, indianista por quem toda a escola se apaixonou, mais radical do que os mais bolcheviques. 

Estudamos Marx, Tolstoi, Sartre e Max Webber no primeiro ano. Não sofríamos com a luta de classe, tínhamos ódio de classe, portanto, da maioria dos colegas, porque eram populares e de família muito rica, e nós, lumpesinato. 

Tudo que era do contra era comunista: aqueles e aquelas desenganadas esquecidas ignoradas atordoadas e em crise que ficavam numa saleta entulhada do colegial, depois segundo grau, atual ensino médio, chamada Centro Acadêmico, ou “centrinho”, que rodava o jornal da escola que ninguém lia, apenas o diretor, o inspirador Padre Charbonneau. 

Lemos Dostoievski, Kafka, Dürrenmatt, Aristóteles, Camus, obrigatoriedade da escola, vimos filmes italianos e franceses, por conta de um professor entusiasta por clássicos, que nos exibia num cineclube amador, cujo projetor de 16 mm ficava no meio da sala e por vezes pifava, queimava a lâmpada. Na troca do rolo, parava tudo. Ou o acetato da película pegava fogo, ou era engolido pelo projetor. Geralmente a classe vaiava.



Não censurava as cenas picantes. Catherine Deneuve apareceu seminua em A Bela da Tarde, de Buñuel (1967), numa camisola transparente. Não teve queixa de pais conservadores sobre a pornografia de Buñuel, que aliás era comunista, por contaminar a mente limpa de seus herdeiros, como os ricos se referem aos filhos.

Ele nos indicava filmes pela cidade, especialmente os do Cineclube da FGV. Éramos “de menor”, mas não se pedia carteirinha em pulgueiros. Até Pasolini vimos. O que víamos nos atormentava, pois demolia convenções. 

Em A Aventura, de Antonioni (1960), some a namorada de Sandro e ele pega a melhor amiga dela, Claudia (Monica Vitti), apesar da resistência. Seduz, e quando ela se apaixona, numa jornada em busca da ex-namorada desaparecida, e ela se apaixona, depois o flagra com uma prostituta num hotel. Ao final, ele chora, e ela faz o quê? O consola. 



Em A Amante, de Louis Malle, Jeanne (Jeanne Moreau) é casada com o rico dono de um jornal, mora no campo e tem um amante assumido, rico, jogador de polo, em Paris. Mas quando todos se juntam, na casa do marido, ela fica com um terceiro, um pobretão arqueólogo e divertido, que deu carona pra ela, quando seu carro quebrou. 

Marido e amante ficam a ver navios. Ela abandonou tudo, filha, casamento, amante, vida social. Foge com ele sem rumo, depois de uma transa de tirar o fôlego (deles e nosso). 

Aliás, transam a noite toda, na casa dela, enquanto marido e amante dormem em outros quartos no fundo do corredor. Transam até na banheira. E diz: “Não se resiste à felicidade”. Vai embora com o pobretão, e diz: “Estava com medo, mas não me arrependia de nada”. 

Imagino os casais saindo mudos e calados dos cinemas em 1958. As mulheres se olhando. É possível? A mesma atriz, Jeanne, aparece em Julles et Jim, de Truffaut, cuja tradução do título em português explica tudo: Uma Mulher para Dois. 



Em La Dolce Vita, do Fellini (1960), um repórter sedutor e sensacionalista deixa a noiva deprimida em casa, paparica as celebridades disponíveis por Roma, e é levado pela amiga aristocrata casada pra cama, no quarto de uma prostituta. 

Tudo rolou na germinada Revolução Sexual. Tudo isso para colocar a semente em gerações e gerações da emancipação feminina. O papel da mulher foi questionado. Casamentos infelizes acabam. 

Encontramos no existencialismo explicações e consolo para a falta de explicação para a existência e, vingança, para a existência dos outros. Os comunistas, nós, éramos na verdade niilistas, de um pessimismo que nem botava fé no comunismo ou em regime algum. Afinal, diria o filósofo, o inferno são eles, os outros.

Odiávamos modas. Só as antigas. Não sabíamos o funcionamento da camisinha nem de gel no cabelo, nem de lâminas de barbear ou depilar, a não ser quando imaginávamos nossos ídolos cometendo um suicídio visualmente convincente. Mas sabíamos como acender um Gauloise com um isqueiro que abre e fecha. 



Nos rendíamos com Jane Birkin cantando: “Je vais, je vais et je viens, entre tes reins...”. Sem chance de sermos populares na escola, em cujas festinhas dançavam Donna Summer, The Stylistics e Barry White.

Enquanto os outros colegas lotavam as sessões de Guerra nas Estrelas e E.T., a gente via A Bela de Tarde, em que a dona de casa frígida Deneuve começa a se prostituir às tardes num bordel discreto e... Adora, vicia-se, encontra um sentido de vida (nada fácil). 



Ninguém era de ninguém, passou a ser o ditado da minha turma. Se as dúvidas da puberdade de Anne Frank hoje causam pavor, imagine as da nouvelle vague e realismo italiano.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

A volta da casa 842 - Ignácio de loyola Brandão

 Para Maurice Capovilla, 

cujo primeiro filme eu escrevi, 

amizade de uma vida


Rita Mazzoni, parente minha e neta de Sebastião Bandeira, contou que Mário de Andrade, certa tarde em que esteve em Araraquara, em uma de suas visitas à chácara de Pio Lourenço, desceu a Avenida Guaianases, hoje Djalma Dutra. Foi visitar Sebastião Bandeira, famoso por estar desenvolvendo um moto-contínuo. Ao chegar, Mário deu com Sebastião a conversar com José Maria Brandão. Entrou na conversa e foram confirmar os progressos de Sebastião. Assim teria sido o encontro de meu avô com um dos mais célebres intelectuais brasileiros. Vovô Gegé, como dizia vovó Branca, vindo de Matão, morou até o final da vida na esquina da rua 8, número 842. Aquela casa faz parte da memória afetiva de gerações. Ali vivi o episódio que me angustiou a vida inteira até que, 60 anos depois, consegui escrever Os Olhos Cegos do Cavalos Loucos, um dos cinco Jabutis que ganhei.

Esta casa voltou a fazer parte de minha vida depois de 40 anos. Há décadas ela desligou-se da família e de repente ressurge. Acabou de chegar um e-mail de dois jovens, Flávia e Gabriel Paduan, contando que se casaram e compraram a casa. Souberam que ela tinha pertencido ao meu avô e gostariam de saber o que o lugar significa para mim. “Que espaço é este em que vamos morar?”, indagaram. Aquela casa ainda tem para mim a fragrância das madeiras amontoadas na marcenaria de meu avô. O cheiro dos pudins que vovó Branca assava no fogão a lenha com brasas na tampa. O aroma espesso do “virado” de banana e farinha de milho, no qual tia Maria era tão craque quanto Rita Lobo. O cheiro de licor de abacaxi, criado a partir da casca da fruta fermentada, e também o dos pães quentinhos trazidos pela carrocinha do Pasetto. O perfume de tia Ignácia, minha madrinha, flutuando pela casa, quando ela saia domingo para a sessão de cinema. O verde transparente e mágico dos olhos de tia Terezinha, mulher do tio José. As arruaças dos netos vindos de Bauru ou de alguma cidade da Araraquarense, ansiosos por ouvir tia Margarida ler os contos da Carochinha. Os perfumes diferentes (franceses?) de tia Inez, mais bela que Rita Hayworth, mulher do tio Geraldo, quando vinham encontrar a família, para irem a um teatro, cinema ou reza solene. Tio Geraldo, conhecido como Celso Davila, foi dos melhores atores das novelas da PRD-4 Rádio Cultura. 

O número 842 ficava na frente da casa de Cristina Machado, Iaia, minha primeira professora. Ela vendeu sua escola para Lourdes Prado, que ficava na esquina oposta. Lourdes me ensinou redação. Naquela esquina, aos 11 anos, durante o ano inteiro de 1947, no começo da noite de quarta-feira, eu esperava por Carmem de Paula. Ela assinava o Diário de São Paulo e me entregava o suplemento juvenil que trazia os quadrinhos de Drago, clássico de Burne Hogart (um dos criadores de Tarzan nos gibis) e de Brick Bradford, de William Ritt e Clarece Day. Incendiavam minha imaginação. Sôfrego, eu lia sentado na sarjeta à luz do poste e tremia com vilões como o assassino Stiletto, o nazista Barão Zodiac e a bela Tosca. 

Na esquina da rua 8, em frente à escolinha da Lourdes, ficava o ônibus circular à gasogênio do Braz Pirolla, que tinha uma oficina mecânica. Brincávamos dentro, até que Braz aparecia e fim da festa. “Dirigi” tanto aquele ônibus que nunca mais dirigi na vida. Poucos souberam que na esquina oposta a de vovô, na avenida 7 de Setembro, morou uma mulher vinda de Santa Rita do Passa Quatro, de nome Branca, paixão de Zequinha de Abreu, o compositor de Tico-tico no Fubá. Para ela, Zequinha escreveu a valsa que leva seu nome, um clássico. Branca foi vivida no cinema por Tônia Carrero em filme de 1952 dirigido por Adolfo Celli e produzido por um dos melhores amigos que tive, Fernando de Barros. Vizinhos, os Carmona, produziam macarrão eu ia lá buscar letrinhas de massa para fazer sopa, mas eu preferia escrever frases colando-as em papel.

Nos finais de tarde, vizinhos e amigos sentavam-se na calçada para a roda de conversas e café, encontro que seguia até 10 da noite, quando a sirene da Meias Lupo tocava, para o novo turno de funcionários. Alguém alertava: “A sereia da Lupo tocou, vamos entrar”. A cidade ia dormir. Sereia era a sirene. Este costume foi retratado por Zé Celso Martinez Corrêa em sua primeira peça teatral Cadeiras na Calçada.

Agora, vejam só, Flávia é bisneta de Vicente Gullo, imigrante italiano que montou seu açougue na esquina da rua 6 com a avenida Sete. Vicente e Domingas, dona Didi, são avós de Marcia, minha mulher. Dona Didi foi das melhores amigas de minha mãe, Maria do Rosario, unidas pela devoção a São José. De vestido preto e fitas amarelas iam juntas para a Matriz, no começo da noite. Morando na casa 842, o que é a vida? Pontos soltos se encontram. Acaso, ou simultaneidade? 





quarta-feira, 2 de junho de 2021

Ouvindo música - Roberto DaMatta

 A alegria musical é, então, a da alma, convidada excepcionalmente a se reconhecer no corpo. 

Claude Lévi-Strauss 


Cresci numa casa sem livros, mas com um piano. E mais que isso: com uma pianista que “tocava tudo” e era mãe e “dona da casa”. Uma “dona” ciente de que o mandão da “porta da rua” em diante era o marido. O pai que, preocupado com os seis filhos e a “carestia de vida”, não tocava nada. Estava sempre preocupado com sua pré-ocupação. Era austero e, pouco falando, errava pela mudez. Mas nos levava à praia, à piscina e ao cinema. Adorava os filmes de Tarzan e de guerra, então em moda. Quando via um filme excepcional, dizia: “esse é de encher a medida”.

Eu me arrependo de não ter falado – confesso ao leitor nesta coluna escrita com o coração – com ninguém o quanto eu os amava. 

O mundo nos obriga a disciplinar e a “dar exemplo” e isso torna as relações entre pais e filhos um elo insolúvel. Se perguntam demais, são insolentes ou intrusos. Se ficam afastados, viram indiferentes. Como combinar o amor daqueles que fabricamos com o nosso sangue, com a dramática obrigação de “educar” e corrigir, podar e, no extremo, punir – tudo isso que vem de fora, dos costumes, para a nossa intimidade? A preocupação com o “educar” é difícil e quase sempre reprime o encontro amoroso com os filhos.

A música do piano de mamãe fazia esse ligação de modo preciso e alegre. E, assim, ela ficou para sempre nos nossos corações. 

As melodias “entram” pelos ouvidos e fazem do escutar um ouvir ou do ouvir um escutar. Um ouvir, porém, cujo entendimento não requer nenhum esforço porque, dentro de cada um de nós, a música encontra um sentido imediato (de indiferença, repulsa ou de imenso prazer) sem nenhuma mediação. Em todas as linguagens, há uma diferença entre o som e o sentido – esse clássico enigma da comunicabilidade. A música, entretanto, como diz Lévi-Strauss, é uma linguagem nua: um código no qual som e sentido se confundem.

De fato, ao ouvir uma melodia, não cabe perguntar se ela é entendida ou não. Seu propósito é complicado (senão misterioso), justo porque ela pode ser instrumentalizada, e ajuda a despertar alguma emoção ou identidade (caso dos hinos nacionais e as músicas de amor ou de carnaval), mas a música não tem finalidade, exceto a de existir. É o belo em estado puro, pois nem material ela precisa ser para se materializar. Se o escultor usa mármore ou bronze e o pintor, tela e tinta, o músico usa o próprio som que passa em sucessão harmônica e, passando, fica na nossa memória musical, uma recordação, aliás, especial e a última que perdemos. 

A música é uma linguagem que dispensa tradutores e nos obriga a tomar parte dela pela passividade e, muitas vezes, pelo gesto ritmado. O que confunde numa língua estrangeira é descobrir o que o som exótico significa. Mas, na música, conforme aprendi com Lévi-Strauss, tem-se uma língua na qual som e sentido chegam juntos – são inseparáveis. 

Mamãe foi um prodígio ignorado pelo meio no qual nasceu e cresceu. Aos 5 anos, tocou uma música folclórica que fez com que sua professora deixasse de cobrar as aulas para a menina talentosa. Vivendo numa casa sem piano, a mãe viúva de mamãe pediu a um carpinteiro que fabricasse numa tábua as 88 teclas desenhando nela seus sustenidos e bemóis. Foi nesse “teclado” de mentira que mamãe descobriu a profunda lição de que, na vida como na arte, tudo é simbólico e até mesmo os sons existem somente na nossa mente e cultura. 

Todos os dias, a pianista deixava de ser dona de casa, mãe e esposa e, no final da tarde – um pouco antes do jantar –, ela dava um recital caseiro, fazendo o piano substituir as rotinas particulares da casa pela criação universal da música. De harmonias que nem sempre existiam no grupo.

Talvez, quem sabe, as músicas escolhidas de Ary Barroso, Eduardo Souto, Chopin, Liszt, Lamartine Babo, Pixinguinha, Jobim, Strauss, Franz Lehár, Gershwin, Jerome Kern, Cole Porter e Irving Berlin tivessem alguma intenção velada. Quem sabe faziam parte de um código secreto, familiar aos adultos, desenhado para aguentar este mundo. 

Mamãe tocava e, muitas vezes, cantava e explicitava a súbita beleza das letras. Na medida em que envelheceu, foi recitando cada vez mais as letras ao mesmo tempo em que mencionava os nomes das pessoas que gostavam de tal ou qual canção. Eu aprendi inglês com as músicas americanas tocadas por Lulita (era o seu nome). Ela adorava o refrão “I love you, and you love me”, tão rotineiro nessas músicas – hinos a uma reciprocidade banida da vida moderna...

Todo dia, eu ouço música. Todos os dias, a música traz no seu espírito a alma das pessoas que me fizeram humano e que estão nas harmonias que escuto no centro do meu ser. Cada melodia faz surgir uma alma que a música libertou da minha alma. Vejo os irmãos, os tios e o pai orgulhoso, mas ciumento, da mulher com aquele talento dividido pelo piano. Vejo muito as namoradas com as quais dividi um amor virginal. 

Pode haver coisa mais sublime do que viver o belo no bom piano daquela que lhe trouxe ao mundo? 


George Gershwin



terça-feira, 1 de junho de 2021

Eu e a sua máscara - Gilberto Amendola

 

Quero contar sobre a máscara que você esqueceu na minha casa e como tenho cuidado dela. Acho que pode funcionar se eu fizer um paralelo rápido com uma escova de dentes que foi deixada para trás – com a clara intenção de marcar um território amoroso.

Ainda se faz isso? As pessoas ainda espalham objetos para assegurar uma cadeira, um assento premiado no coração de outra pessoa?

Talvez você tenha deixado a máscara de propósito. Talvez você precise de uma desculpa para voltar. Ou tenha deixado um recado que ainda não decifrei.

Se eu não te desvendar, você me devora?

Será que quando a pandemia acabar, vamos amar as mesmas pessoas? 

Deixar de me amar pode ser uma sequela da sua covid? 

Guardo sua máscara ao lado da minha cama, do lado do despertador. Te dou bom dia, te desejo boa noite e, vez ou outra, sonho com você. Tenho lá minhas fantasias com sua PFF2.

Conversamos, debatemos, falo coisas que nunca te disse. Sua máscara, acredito, guarda certa simpatia por mim.

Juntos, eu e sua máscara, rimos de coisas que são feitas para chorar. Deve ser uma espécie de defesa natural, um mecanismo de sobrevivência. 

Nós, eu e sua máscara, temos o mesmo impulso de moer os sentimentos ruins até que eles se transformem em uma pasta fácil de trabalhar. A gente vive fritando esses quibes existenciais para matar a nossa fome. 

Só assim, comicamente imunizado, é possível ser brasileiro.

Ontem, vesti meu chinelo, sem tirar as meias. Da minha geladeira, peguei um vinho que já está pela metade. Sabe, gosto daquela taça que tem uma lascadinha na borda – ela me exige atenção na hora de beber. 

Tentei harmonizar o vinho com Cebolitos (o que deve ressaltar as notas de requeijão vencido do meu malbec). Não sei se funcionou direito, mas foi uma noite incrível. 

Quer dizer, estava sendo uma noite incrível... Sem querer, e na pressa de descer para pegar um delivery, coloquei sua máscara no meu rosto.

Foi estranho, foi um beijo, foi perigoso, foi nojento, foi lindo, foi sufocante, foi libertador, foi um descuido e foi imperdoável. 

Tive que lavá-la depois. E abandoná-la no varal, pingando. Não sei se ria ou se chorava. Também não sei se ela deve ser usada de novo. O melhor, talvez, seja guardá-la como um souvenir do nosso amor pausado.

Do amor que foi quando não poderia ter sido. 

Hoje, vou fazer uma foto da sua máscara e mandá-la por e-mail. Vai ser um mude pandêmico. 

Mas vai que esse e-mail bate em alguma parede cibernética, quica em um servidor sem alma e volta para mim. 

Uma mensagem de erro pode ser uma resposta contundente ao meu delírio romântico. Vai que você não está mais disponível, ou o seu endereço não existe ou o excesso de pretendentes lotou sua caixa de entrada.

Cortei meus lábios com a borda lascada dessa taça de vinho.

Limpei com sua máscara.

Foi sem querer. 


Foto: De An Sun Tso



Macho Alfa - Antonio Prata

  ilustração: Adams Carvalho Anteontem, vejam só, meu pneu furou. Todos aqueles que, como eu, estão neste rolê desde as últimas décadas do s...