quinta-feira, 4 de maio de 2017

Fábulas - Antonio Prata

Fábulas monterrosianas


O burro, a mula, o jegue e o jumento se reuniram numa assembleia para redigir um manifesto contra o cavalo. Era intolerável que eles trabalhassem tanto ou mais do que o nobre colega equino, mas só o nobre colega equino ficasse hypado. “Alguém aí já viu burro em propaganda de cigarro?”, “E mau aluno com chapéu de cavalo?”, “E por que nunca criam uma mula unicórnio?”. Redigiram um manifesto a oito cascos exigindo a imediata distribuição do sucesso cavalar para a totalidade da classe equestre e uma maior equanimidade (atenção: trocadilho) na divisão internacional do trabalho.

No dia seguinte, o burro, a mula, o jegue e o jumento foram ao pasto, entregar o manifesto. O cavalo os olhou, mal-humorado, mascando um capim, com sua pinta de Charles Bronson. “Que foi?”. “Nada, nada”, responderam, trêmulos, e desistiram de entregar o documento.

Voltando do encontro, o burro, a mula, o jegue e o jumento avistaram a zebra, bebendo água num lago. Correram até lá, a cercaram e lhe deram uma surra de coices e pinotes. “Zebra vagabunda!”. “Quem você pensa que é?!”, “Não trabalha! Não faz nada! Passa o dia de pijama!”, “Vergonha da classe equina!”.

Era uma vez um gato rajado, velho e gordo que fingia ser filhote de tigre. Ele chegava a uma cidade, entrava no primeiro bar e batia no balcão: “Barman, bourbon! Eu sou filhote de tigre! Se você não me der bourbon, eu volto aqui quando crescer e te como no café da manhã!”. Todo mundo caía na gargalhada. O poodle na mesa de sinuca tirava o cigarro da boca e provocava, “Eu sou filhote de urso!”, a mariposa do lustre gritava, “Eu sou um B-52!”, o macaco, jogando dardos, emendava, “Eu sou um bonsai de King Kong!”, e o gato rajado, velho e gordo seguia para a próxima cidade.

O vírus tinha inveja da bactéria, que tinha inveja do ácaro, que tinha inveja da pulga, que tinha inveja do besouro, que tinha inveja do rato, que tinha inveja do gato, que tinha inveja do puma, que tinha inveja do tigre, que tinha inveja do leão, que tinha inveja do leão mais jovem, que tinha inveja dos leões mais jovens de antigamente, que, dizem os leões mais velhos, eram muito mais fortes, mais livres e não tinham inveja de ninguém.

“Segundo a assessoria de imprensa do time dos macacos, o lateral direito Prego, 29, não descarta processar a torcida das hienas que, durante uma cobrança de escanteio, atirou relógios, óculos e escovas de dentes em sua direção”.

A cascavel entra a milhão no Pronto Socorro: “Mordi a língua! Mordi a língua!”.

Três lesmas muito machas se reunem pra brincar de roleta russa. No meio da roda, uma caixinha de Tic-Tac com seis balas dentro. Cinco, na verdade: a sexta, idêntica às outras, é uma pedra de sal.

Décadas atrás, era impensável um ouriço transgênero. Hoje, veja só, para todo lado que se olhe percebe-se – azuis, violetas, rosadas – a grande quantidade de anêmonas

ps. Estes textos são descaradamente inspirados no livro A Ovelha Negra e Outras Fábulas, de Augusto Monterroso, Cosac Naify, tradução de Millôr Fernandes.

Fábulas monterrosianas (2)


Vivia a floresta na mais densa calmaria até o dia em que apareceu a coruja, com suas olheiras, seu sobretudo e suas ideias subversivas: “Como vocês podem se achar felizes se são paus mandados do leão? Como podem se achar livres se só fazem o que permite o leão? Como podem dormir tranquilos se correm o risco de, a qualquer momento, serem devorados pelo leão? Abaixo a ditadura leonina!”. “Bravo!”, gritou o coelho. “Apoiada!”, bradou a gazela. “Ente, ente, ente, coruja presidente!”, puxou o tatu.

Daí em diante, os animais passaram a viver revoltados, só pensando no absurdo que era serem vítimas desse déspota, o leão. A coruja, então, organizou uma assembleia, onde, depois de um caloroso debate, chegou-se à conclusão de que em toda a floresta havia um único bicho capaz de destronar o autoungido rei dos animais: o jacaré.

Boiando no rasinho, só com aqueles olhos amaconhados pra fora d’água, o jacaré ouviu a explicação da coruja e as súplicas de seus companheiros silvícolas. “Vocês querem que eu ajude?” “Sim!”, responderam todos. “Querem a paz na floresta?”. “Siiim!”. “Querem parar de sofrer com a supremacia leonina?”. “Siiiiiim” – e, mal o coro suplicante havia terminado de ecoar por entre as copas das árvores, o jacaré arremeteu contra a coruja e, num bote certeiro, a engoliu inteirinha, com suas olheiras, seu sobretudo e suas ideias subversivas.

Era véspera de Natal e duas mariposas ficaram girando em volta da lâmpada, até tarde. Quando amanheceu elas viram, do lado de lá da janela, uma borboleta. “Ah lá, que coisa ridícula!”, caçoou uma mariposa. “Toda coloridinha, a fofa...”, emendou a outra. “Se achando o próprio arco-íris”, zombou a primeira. Depois, foram dormir.

Na noite seguinte, a primeira mariposa estava a caminho da lâmpada e, ao passar pela árvore, se viu refletida num enfeite vermelho. Parou, olhou pra direita, olhou pra esquerda e, como não havia ninguém, ficou ziguezagueando diante da árvore, maravilhando-se com seu reflexo ora verde, ora amarelo, ora vermelho, ora prateado, ora dourado, nas bolas de vidro. Até que, do outro lado da árvore, surgiu a segunda mariposa. As duas tomaram um susto. “Que que cê tá fazendo desse lado da árvore?!”, “Nada! Tô subindo pro lustre! E você, lá do outro lado?!”, “Nada, subindo pro lustre, também...”.

Dito isso, elas voaram até o alto da sala e ficaram a girar em volta da lâmpada. “Nossa, e aquela borboleta, ontem?!”. “Coisa ridícula, toda coloridinha, a fofa”. “Se achando o próprio arco-íris...”.

Numa manhã do neolítico, bem antes do domínio das técnicas de irrigação, da agricultura, do desenvolvimento do comércio e da invenção do dinheiro, uma galinha pôs um ovo de ouro. Como estávamos no neolítico, bem antes do domínio das técnicas de irrigação, da agricultura, do desenvolvimento do comércio e da invenção do dinheiro, a galinha foi tratada pelas outras como uma aberração, foi chamada de freak, foi expulsa do bando e morreu só e triste, deixando duzentos ovos de ouro e nenhum descendente.


“Mundo vil, mundo tacanho!” (o ornitorrinco a bradar) “Todos me chamam de estranho Mas e o pepino do mar?!”


Texugos


Era uma vez um texugo muito pobre e injustiçado. O texugo muito pobre e injustiçado passou a adolescência lendo textos, vendo filmes e assistindo a peças que denunciavam as causas da pobreza e da injustiça, de modo que se transformou num texugo muito pobre, injustiçado e revoltado.

Um dia, o texugo muito pobre, injustiçado e revoltado não aguentou mais e decidiu ele também escrever textos, filmes e peças denunciando as causas da pobreza e da injustiça. Para surpresa do texugo muito pobre, injustiçado e revoltado, seus textos, filmes e peças fizeram um retumbante sucesso e ele passou a ganhar rios de dinheiro e a frequentar restaurantes caros e festas de ricos e famosos que achavam mui cool ser amigos do texugo que tinha sido muito pobre, injustiçado e escrevia textos, filmes e peças revoltados.

Uma noite, em sua cobertura, um pouco bêbado de vinho francês, o texugo que tinha sido muito pobre e injustiçado olhou para os móveis de sua sala, para os sapatos em seus pés, para os quadros nas suas paredes e sentiu que aquela revolta não condizia com a posição que ocupava.

Então, depois de alguma deliberação não inteiramente consciente, o texugo muito rico e nada injustiçado reformulou sua revolta: dali em diante, passou a escrever textos, filmes e peças revoltados contra os textos, filmes e peças revoltados que denunciavam as causas da pobreza e da injustiça, pregando que era tudo coisa de vagabundo e maconheiro que não trabalhava que nem ele pra subir na vida e ser alguém.

Era uma vez outro texugo muito pobre e injustiçado que também escrevia textos, filmes e peças denunciando as causas da pobreza e da injustiça. Os textos, filmes e peças desse texugo muito pobre e injustiçado eram chatíssimos, confusos e cheios de lugares comuns, mas como ele era um texugo muito pobre e injustiçado, as pessoas liam os textos, assistiam aos filmes e peças chatíssimos e confusos e cheios de lugares comuns e saíam dizendo umas pras outras as mil maravilhas e mais tarde descansavam suas cabeças sobre travesseiros de plumas acreditando terem feito algo contra a pobreza e a injustiça.

Era uma vez um texugo muito rico e mordaz que percebia a chatice, a confusão e os lugares comuns nos textos, filmes e peças do texugo muito pobre, injustiçado e sem talento. O texugo muito rico e mordaz escrevia posts jocosos no Facebook denunciando o outro como uma grande fraude. Metade dos seguidores do texugo muito rico e mordaz comentava “KKKKKKK!!!” nos posts jocosos e ficava aliviada porque se o texugo muito pobre e injustiçado era um embuste, toda a tentativa de denunciar a pobreza e a injustiça era também um embuste e o melhor a fazer era descansar a cabeça sobre travesseiros de plumas e pensar em assuntos mais agradáveis do que a pobreza e a injustiça.

A outra metade dos leitores do texugo muito rico e mordaz o desacreditava porque ele era muito rico e mordaz e reafirmava nos comentários dos posts jocosos seu amor pela obra chata, confusa e cheia de lugares comuns do texugo muito pobre e injustiçado. E é por essas e outras que os texugos tão do jeito que tão e há quem ache que o melhor mesmo é que venha logo um meteoro e acabe com essa esbórnia de uma vez por todas.


O Feio


Era uma vez um coelhinho criado por uma família de cangurus. Os cangurus cresciam, o coelhinho não, e por isso o apelidaram de Canguruzinho Feio e passaram a chamá-lo de pulga, pula-migalha, salta-formiga e todas essas coisas ofensivas que os cangurus altos reservam para os cangurus baixinhos. Um dia, porém, toda a família de cangurus foi passear em Adelaide.

E era páscoa. E o Canguruzinho Feio descobriu, maravilhado, que não era um Canguruzinho Feio, mas um belo coelho, animal fantástico, capaz de pôr ovos coloridos de chocolate e, por esta razão, merecer dos humanos um tratamento de semideus. De início, os cangurus o olharam com toda a admiração, até que um deles – não muito alto, por sinal – provocou: “Ah, é, bonitão? Bota um ovo de chocolate aí, então, pra gente ver!”.

O coelho se agachou, fechou os olhos, mentalizou um ovo de 500 g da Lindt, fez toda a força de que seu pequeno esfíncter era capaz, mas o resultado foi apenas uma bolinha de cocô. Os cangurus explodiram numa gargalhada. O coelho ainda apertou o cocozinho com a ponta da unha e uma ponta de esperança: vai que era um MM marrom? Não era.

Morto de vergonha, o Canguruzinho Feio abandonou a família e passou a viver mendigão pelas ruas de Adelaide.

Era uma vez uma lesma criada por uma família de minhocas. As minhocas pararam de crescer, mas a lesma seguia inchando, por isso a apelidaram de Minhocona Feia e passaram a chamá-la de bisnaga, linguiça, isca de baleia e todas essas coisa ofensivas que as minhocas magras reservam para as minhocas gordas. A Minhocona Feia vivia fazendo regime, jejuava por dias inteiros, tentou cortar carboidratos, glúten, frituras, mas nada adiantava. O que mais a envergonhava, porém, não era o peso: era produzir, em vez do húmus – orgulho e alegria de toda minhoca –, uma baba humilhante que a seguia por onde fosse.

Um dia choveu muito, o gramado alagou e as minhocas tiveram que se abrigar na varanda. Neste dia, a Minhocona Feia olhou para a vidraça da casa e viu duas Minhoconas Feias iguais a ela, na ponta de dois rastros iguais ao seu. Neste dia, ela descobriu que não era uma Minhocona Feia, mas uma bela jovem lesma.

Por umas semanas, a bela jovem lesma viveu feliz com seus pares, babando na vidraça e comendo como uma condenada. E uma condenada, de fato, ela se tornou: de tanto comer para compensar os tempos de penúria, passou a ter problema de colesterol, diabetes, pressão alta e acabou enfartando não muito depois da sua redenção.

Era uma vez um ouriço que nasceu próximo a uma família de polvos. Por uns dez segundos, ele acreditou que pudesse ser um polvo esquisitíssimo, mas pensou melhor e percebeu que não.

Era uma vez um filhote de tigre criado por uma família de gatos. Os gatinhos pararam de crescer, mas o tigre não, por isso o apelidaram de... De nada, pois assim que percebeu as risadinhas, o filhote de tigre almoçou os quatro irmãos, a mãe, uma lesma moribunda que encontrou na varanda, um coelho bebum que trombou na esquina e só não comeu o ouriço e a família de polvos porque não nasceu no fundo do mar, não se achava um peixe tigre e sequer sabia nadar.

Joanão e outras minifábulas


Um dia a joaninha tomou coragem, cobriu as costas com fita isolante, fez uma cara de túmulo e se juntou aos seus ídolos: a turma de besouros góticos que se reunia, toda noite, ao pé do cupinzeiro abandonado. “E aí, pessoal?”, ela murmurou, na voz mais deprimente que conseguiu. “Sai fora, joaninha!”, rosnou o líder dos besouros. “Que joaninha?! Eu sou um besouro pequeno, de outro tipo!”. “Ah, é? Então que que é isso?!”, perguntou o líder, arrancando a fita isolante. “Saco...

Beleza, mas ninguém me chama de joaninha, ok? Todo mundo me conhece como Joana”. “Nem vem, joaninha! Tem lugar p’cê aqui não, fofa!”. “Eu não sou fofa!”. “Ah, não? Vermelhinha com pintinhas pretas?! Parece um moranguinho alado!” – e todos os besouros góticos riram. “Moranguinho o escambau! Isso aqui é tipo, tipo um, um mar de sangue fresco cheio de besouro morto afogado depois que uma vaca com ebola sangrou pelos poros até cair morta e seca no pasto que nem uma uva passa!”.

Hoje, Joanão é líder dos besouros góticos, que passam horas, toda noite, pintando as costas com urucum – deixando intactas só algumas bolinhas pretas –, antes de se dirigirem ao cupinzeiro abandonado.

Para os ácaros, não tem história mais apavorante do que Piolho, de Bram Stoker.

– Tamanduá transformer! Tamanduá transformer! – grita a formiga sentinela, do alto da geladeira, ao que todas as outras correm para trás do espelho de luz, apavoradas com o aspirador de pó.

A cobra verde cuspia uma, duas, três vezes e já ficava com a garganta seca, então se perguntava, “Nossa, como será que ela consegue?!”, admirando a mangueira do jardim.

Há entre os tatus-bola uma antiga crença: depois de morrer, aqueles de vida proba viram bola de gude – já os maus passarão o resto da eternidade metamorfoseados em cocô de galinha.

“Prova da superioridade das nozes sobre as amêndoas, as avelãs e as castanhas”, escreveu uma noz eugenista, em fins do século 19, “é que a natureza moldou as nozes tal qual o cérebro dos humanos – a segunda espécie mais evoluída, depois das nozes –, ao passo que as amêndoas, avelãs e castanhas se assemelham, quando muito, aos testículos dos supracitados bípedes”.

Contra o eugenismo das nozes, em fins do século 19, uma jovem avelã escreveu: “Oh, mas que ideia malsã / Imagem de puro asco / Ânimo, bela avelã! / Noz é que parece um saco!”

Enquanto tais embates se davam pelos salões e academias científicas, os amendoins, analfabetos, cruzavam oceanos nos bolsos dos marujos, rolavam pela grama, nas mãos das crianças, enchiam a cara de vinho, tabaco e perfume nas mesas dos cabarés.


O camaleão daltônico


Era uma vez um camaleão daltônico. Quando a folha era verde, ele ficava vermelho, na terra vermelha, se pintava de verde, comendo bananas, se besuntava de azul, e, entrando na água, se amarelava todo. Um dia, os outros camaleões o chamaram para uma conversa. "Aí, parceiro, a gente não tem garra, não tem veneno, não tem juba, a nossa parada é disfarce. Com você na área, geral tá correndo perigo. Vaza."

O camaleão daltônico pegou sua trouxinha e, azul de raiva, foi morar do outro lado da floresta. Acontece que, justamente naquele dia, nos confins da mata, havia um fotógrafo da "National Geographic" clicando umas borboletas. O fotógrafo da "National Geographic" pirou no camaleão daltônico, que, cor de abóbora, sobre uma vitória-régia, estampou as capas da revista nos quatro cantos do globo. Pouco tempo depois, todos os camaleões da floresta entraram numas de contraste, pra imitar o camaleão daltônico.

Quem gostou muito da novidade, além dos fotógrafos da "National Geographic", foram os gaviões, as cobras e os quatis: numa única tarde, boa parte dos camaleões foi extinta. Entre os que sobraram, os mais à direita culpam o camaleão daltônico, os à esquerda culpam a mídia –e seitas apocalípticas pregam que a semiextinção dos camaleões é prova irrefutável do fim dos tempos e da chegada iminente do Grande Camaleão.

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Um dia, um patinho viu um ganso e ficou apavorado. Toda noite, a partir de então, ele sonhava que o seu pescoço crescia, crescia, crescia e que os outros patinhos riam, riam, riam.

Um dia, um potro viu uma girafa e ficou apavorado. Toda noite, a partir de então, ele sonhava que o seu pescoço crescia, crescia, crescia e que os outros potros riam, riam, riam.

Se o patinho e o potro se encontrassem e ficassem amigos e compartilhassem seus anseios mais íntimos, eles talvez falassem desse mesmo sonho e se reconfortassem com a similaridade dos medos e passassem a sonhar sonhos melhores, cheios de minhocas e milho, no caso do patinho, cheios de feno e capim, no caso do potro. Acontece que o patinho morava em Limeira (SP), e o cavalinho morava no Quênia, na África, de modo que eles tiveram que lidar sozinhos com as suas angústias até que a vida lhes mostrasse que pato é pato, ganso é ganso, cavalo é cavalo, girafa é girafa e os pescoços não costumam variar muito dentro de uma mesma espécie.

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Na sala de espera do dr. Corujo, psiquiatra especializado em distúrbios alimentares, aguardavam um elefante anoréxico, um abutre vegetariano, uma sucuri cristã, uma hiena viciada em ração pra gato, uma lesma fissurada por sal e uma molécula de glúten com intolerância ao glúten –imediatamente posta numa maca e levada para o hospital.

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No divã do dr. Morsa, psicanalista especializado em dupla personalidade, a zebra da Ku Klux Klan acaba de se dar conta, aterrorizada, de que nos períodos de amnésia é vice-presidente do comitê regional dos Black Power.

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