O disco Tropicália ou Panis et Circensis foi lançado em 1968, há 50 anos, num Brasil em transe marcado pela ditadura em que pipocavam movimentos estudantis, greve dos metalúrgicos, manifestações e ocupações de escolas e faculdades. Muitos estavam nas ruas contra o golpe de 1964.
Agora, 2018, estamos comemorando a efeméride desse disco num Brasil, infelizmente, não muito diferente. Se alguns esquecem da nossa história recente, muitos estão juntos estudando história e construindo o nosso amanhã. Saber o que nos aconteceu lá atrás faz parte da construção do que queremos daqui para a frente. “Mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer...”
A capa do disco por si só já é marca fundamental da nossa cultura. Essa que está aqui e que você já deve conhecer. Nela estão Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Nara Leão, Tom Zé e Gal Costa, todos jovens juntos com o arranjador, compositor erudito e professor acadêmico Rogério Duprat que segura um penico, fingindo ser uma caneca.
Partindo da efeméride do disco, o jornalista, curador e crítico musical Alexandre Matias do Trabalho Sujo criou o projeto chamado Professor Duprat – Maestro da Invenção, que vai acontecer aqui em São Paulo, no Sesc Pompeia, nos dias 6 e 7 de setembro. Já anote a data.
O pontapé inicial foram os 50 anos do disco, mas o maestro, além de sua contribuição tropicalista (que já lhe renderia todas as homenagens), tem em sua carreira outros pontos também importantes para a música brasileira. Como ser um dos principais compositores eruditos contemporâneos do nosso país, fez também muitas trilhas sonoras para publicidade e filmes como, por exemplo, O Anjo da Noite, de Walter Hugo Khouri, de 1974, Marvada Carne, de 1985, dirigido por André Klotzel e estrelado por Fernanda Torres. Não bastasse, traduziu o primeiro e único livro de John Cage publicado no Brasil, De Segunda a Um Ano, com supervisão do ícone da poesia concreta Augusto de Campos. Tá bom? Mas ainda tem um pouco mais: arranjou músicas de artistas como Caetano Veloso, Os Mutantes, Frenéticas, Gal Costa, Gilberto Gil, João Bosco, Nara Leão, Sá, Rodrix e Guarabyra. Ou seja, ele é um verdadeiro mestre da nossa cultura, o Professor Duprat.
Repertório é o que não falta para esse espetáculo que tem direção artística do próprio curador Alexandre Matias junto com os produtores Arthur Decloedt e Charles Tixier do selo Risco e uma banda e tanto formada por Charles, Arthur, Filipe Nader, Thiago França, Maria Beraldo, Mariá Portugal, Rafael Chicão e André Vac e os cantores Tim Bernardes, Curumin, Tiê, Jaloo, Jonas Sá e Luiza Lian.
Já se passaram 50 anos e estudar a história fez parte da formação de todos esses artistas, que ouviram e reouviram esse disco e tantas outras faixas arranjadas por Duprat para que em 2018 outra história seja contada no palco, com invenção e subversão.
Se existe aquele ditado que a vida imita a arte, torço para que o mesmo seja feito pelo nosso Brasil.
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