Zenon foi um jogador do Corinthians nos anos 80 e um
filósofo na Grécia antiga. O Zenon clássico era famoso por seus paradoxos. O
Zenon dos clássicos era famoso por seu bigode. O grego disse que uma flecha
atirada por um arco jamais atingiria o alvo, pois não importa a distância que
falte, sempre faltará a metade dessa distância. Como toda metade terá,
necessariamente, sua metade, a flecha permanecerá eternamente a caminho.
Falando em metades: Zenon, o do Corinthians, era meio-campo.
Seu xará de dois milênios atrás diria que o corintiano jamais percorreria o
campo inteiro, pois sempre haveria meio campo entre o meio-campo e o fim do
campo, depois a metade do meio campo e assim por diante. Felizmente, para azar
do grego e alegria da Fiel, mais de uma vez o craque atingiu o alvo, balançando
as redes – e o bigode.
Outro dia, lendo uma matéria sobre ressaca, vislumbrei o que
me pareceu uma aplicação fisiológica do paradoxo de Zenon. O artigo repisava a
velha máxima de que, quando ingerimos bebidas alcoólicas, é preciso se
hidratar. Considerando-se que uma dose de cachaça é composta por cerca de 40%
de álcool e 60% de água, quanto mais cachaça você consome, mais água você bebe.
Eis aí um argumento dificilmente refutável pela razão, mas imediatamente
derrubado pelo dia seguinte. Prova inconteste, acho eu, de que a despeito das
belas proezas da mente, ao fim e ao cabo o corpo sempre vence – como as latas
de ervilha no fundo do armário e o desodorante embaixo do braço.
Além de Zenon, aquele time do Corinthians tinha outro
filósofo, o maior de todos, tanto no campo quanto na pólis: Sócrates. Não
parece fortuito, portanto, que, como seus xarás da antiguidade, nossos queridos
alvinegros tenham sido os pais da democracia (corintiana).
Corinto, aliás, é uma cidade na Grécia, embora tenha sido
por influência de um time inglês, Corinthians, que a equipe paulistana escolheu
seu nome. Também ingleses são os humoristas do grupo Monty Python. Duvido que
John Cleese, Eric Idle, Graham Chapman e companhia tenham ouvido falar no
escrete filosófico do Timão, mas, apesar disso, fizeram um esquete hilário
sobre uma partida de futebol entre os maiores pensadores gregos e os alemães.
Apita o juiz (Confúcio) e saem todos os jogadores pelo
campo, em peripatética reflexão. Até que Arquimedes tem a ideia, grita
"Eureka!", chuta a bola pra Sócrates, os dois fazem uma tabelinha e
Sócrates marca de cabeça. De todos os 22 sábios helênicos ou teutões, olha que
coincidência, justamente o Sócrates manda a bola pra rede. (Nem Zenon, o
filósofo, nem Zenon, o meio-campista, estavam na seleção grega do Monty Python).
Fosse o jogo do esquete contra pensadores russos, o gol
poderia ser de outro craque da democracia corintiana, o Wladimir (Lenin). O
arqueiro poderia ser o Leão (Trotsky ou Tolstói). O que me traz à memória
Eduardo Jorge, que disse numa entrevista adorar Tolstói, o repórter entendeu
Toy Story e escreveu que político do PV era fã da série de animações com Buzz
Lightyear.
Buzz Lightyear cujo lema "Ao infinito e além!" bem
poderia ser a descrição da flecha rumo ao alvo segundo o paradoxo de Zenon.
"Infinito" porque não chega nunca e "além" porque segue
sempre adiante.
E o Biro Biro nessa história toda, onde entra? Não entra.
Confesso que tentei encaixá-lo de inúmeras maneiras, mas não teve jeito, mesmo
dando voltas e voltas e me enrolando em raciocínios mais tortuosos do que os
cachos daquela distinta cabeleira. E fim de papo.
Ilustração: Adams Carvalho
Partida de Futebol dos Filósofos - The Philosophers' Football Match - Monty Python
https://youtu.be/wrtKc1ZtrGQ