A Verdade Saindo do Poço,
Jean-Leon Gérôme, 1896
Reza uma lenda do Séc. XIX que um dia a Verdade e a
Mentira encontraram-se.
Diz a Mentira à Verdade: “Está um dia tão bonito”.
E estava de fato um dia muito bonito. Passam algum
tempo juntas até que chegam junto de um poço.
” A água está tão agradável, porque não tomamos um
banho as duas?” sugere a Mentira. A Verdade, embora reticente, lá toca na água
e a água estava realmente agradável. Despem-se então e banham-se.
De repente a Mentira sai da água, veste as roupas da
Verdade e foge. A Verdade salta do poço e corre todos os lugares para encontrar
a Mentira e recuperar as suas vestes.
O Mundo,
vendo-se confrontado com a nudez da Verdade, revira os olhos, entre o desprezo
e a raiva. A Verdade volta então ao poço onde desaparece para sempre,
escondendo a sua vergonha.
Desde então a Mentira tem percorrido o Mundo com as
roupas da Verdade, satisfazendo os caprichos das pessoas e das sociedades, e o
Mundo, esse, continua a recusar-se a encarar a Verdade nua.
Certa vez, a Mentira e a Verdade se encontraram.
A Mentira, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe:
– “Bom dia, Dona Verdade!”
Zelosa de seu caráter, a Verdade, ouvindo tal
saudação, foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, sem
nuvens de chuva. Os pássaros cantavam. Não havia cheiro de fumaça na mata. Tudo
parecia perfeito.
Tendo se assegurado de que realmente era um bom dia,
respondeu:
– “Bom dia Dona Mentira!”
Está muito calor hoje, não é mesmo?” – disse a Dona
Mentira.
Realmente o dia estava quente demais. Deste modo,
vendo que a mentira estava sendo sincera, começou a relaxar, a baixar a guarda.
Por qual razão haveria de desconfiar, se a Dona Mentira parecia tão cordial e
“verdadeira”?
Diante do calor insuportável, a Mentira, num gesto de
amizade convidou a Verdade para juntas banharem-se no rio.
Como não havia mais ninguém por perto, despiu-se de
suas vestes, pulou na água e insistiu:
– “Vem Dona Verdade, a água esta uma delicia,
simplesmente maravilhosa!
O convite parecia irrecusável. Assim sendo, Dona
Verdade, sem duvidar da Mentira, despiu-se de suas vestes, pulou na água, e deu
um bom mergulho.
Ao ver que a Verdade havia saltado na água,
rapidamente a Mentira pulou para fora, vestiu-se rapidamente com as vestes da
Verdade que estavam à margem e se mandou sorrateira.
Tendo suas roubas furtadas, a Verdade sai da água e
ciosa de sua reputação, por sua vez, recusa-se a vestir-se com as roupas da
Mentira, deixadas para trás.
Certa de sua pureza e inocência, Nada tendo do que se
envergonhar, não tendo outra opção, saiu nua.
Desde então, aos olhos das pessoas, ficou mais fácil
aceitar a Mentira vestida com vestes da Verdade. do que aceitar a Verdade nua e
crua.
"A Verdade saindo do poço”, Édouard Debat-Ponsan, 1898
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