Coletâneas

quinta-feira, 1 de março de 2018

Outra(s) carta(s) da Dorinha - Luis Fernando Verissimo

Outra carta da Dorinha (01/10/2007)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, nunca revela a idade, mas nega ser tão velha que quando passa o cometa Halley ela nem olha mais. 

Diz que pegou, sim, o Getúlio Vargas no colo, mas que ele já era presidente na ocasião. Conta o tempo em operações plásticas e, sempre que lhe pedem para lembrar algum episódio de sua vida que não consegue situar, pergunta: "Como era o meu nariz?" 

Dorinha esteve na vanguarda de todos os movimentos políticos do seu tempo e junto com seu grupo de pressão "Socialaites Socialistas" (Tatiana "Tati" Bitati, Lurdes "Lu" Xossó e outras), que luta pela implantação no Brasil do socialismo no seu estágio mais avançado, que é a volta ao feudalismo, lançou um movimento pela ética chamado "Aborreci", financiado em parte com o que seu atual marido, um empresário cujo nome lhe escapa no momento, sonega do Fisco. 

Dorinha nega que o movimento seja elitista e conta que até instruiu seu pequinês, Ostramond de Crecy ("o nome é maior do que ele"), a não latir mais para a classe C, como fazia, mas rosnar pode. O "Aborreci" tem se reunido regularmente, conta Dorinha. Não marcha na rua para não repetir o erro do "Cansei", que cansou. 

São reuniões de amigas antigas, mas ultimamente todas têm sido obrigadas a usar crachá, pois com o advento do botox não se reconhece mais ninguém pela fisionomia. 

Mas desta vez não é a política que, como ela diz, "me bouleverse de la perruque aux pieds" . Dorinha está indignada com... Mas deixemos que ela mesma nos conte na sua carta, como sempre escrita com tinta lilás em papel azul turquesa, timbrado com seu nome e um espaço em branco para seu sobrenome da vez. 

"Caríssimo! Beijos escandalosos, come il fô. Estou revoltadíssima com os inexplicáveis critérios da Playboy para publicar fotos de mulheres nuas - e não as minhas. Uma auxiliar - auxiliar! - de arbitragem hoje, uma amante do Renan Calheiros amanhã... 

Se curiosidade e notoriedade são os critérios, por que não eu, que além de ter sido amante de políticos nacionais de diversas correntes, sem falar em chicotes e ligas pretas, ideológicas, tenho experiência como modelo nu? Sim, posei para o Picasso em Paris. 

Se ele decidiu botar um olho no umbigo e outro não se sabe onde, problema dele. Era eu. 

E coisas como idade e forma física, além de serem quesitos em que eu concorreria com qualquer bandeirinha depois de uma semana no Pitanguy, tornaram-se irrelevantes com a existência do fotoshop. 

Hoje, retocada pelo computador, qualquer mulher de qualquer idade ou volume pode sair nua na Playboy - e quem não sair tem direito a reclamar de discriminação. Estou pensando em processá-los. Da tua magoada Dorinha."

Outra carta da Dorinha (08/11/2007)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. 

Dorinha diz que as especulações sobre sua verdadeira idade são fantasiosas e que só se preocupa com a idade que lhe dão quando quem dá é o Pitanguy. Seja como for, Dorinha esteve presente em muitos momentos decisivos da nossa História. 

Teria, inclusive - por circunstâncias nunca bem explicadas daquele período confuso, e que ela mesma se recusa a esclarecer - ocupado a presidência da República entre a renúncia de Jânio, o governo provisório de Ranieri Mazzilli e a posse de Jango, durante 15 minutos. 

Dorinha concorda que a política mudou muito nesses últimos anos e não pode evitar uma ponta de nostalgia pela política como era antes. 

Principalmente no que diz respeito a acusações e ofensas entre políticos, que no seu tempo... Mas deixemos que ela mesma nos diga em sua carta. Que, como sempre, veio escrita com tinta roxa em papel turquesa perfumado.

"Caríssimo! Beijos disseminados. Essas brigas no Congresso me trazem à lembrança um dos meus primeiros maridos, que era senador da República. A República eu sei que era o Brasil, mas o resto ficou meio vago. 

Não lembro o nome do partido e, pensando bem, nem o nome do marido, de quem só guardei o número da conta bancária, pelo valor afetivo. 

Quando ele foi acusado por outro senador de ser ladrão, chegou em casa e trancou-se no gabinete para preparar sua resposta. Azeitou e carregou a Réplica, que era como ele chamava sua 38 de cano longo, fiel aos seus princípios políticos, segundo os quais retórica de macho é tiro. 

No dia seguinte, foi com a Réplica ao Senado, pediu a palavra e atirou cinco vezes no seu acusador, matando cinco ao seu redor. O outro respondeu aos tiros com sua 45 e matou mais três, inclusive meu marido. Felizmente a conta era conjunta. 

Em seguida, o presidente do Senado pôs ordem na sessão, atirando para o alto e, com a briga encerrada, pôde conduzir os trabalhos a contento, depois de retirados os corpos. É preciso lembrar que o Senado então ficava no Rio e quase sempre havia quórum, mesmo com as baixas. 

Hoje, os congressistas se agridem verbalmente e trocam insinuações e ironias em vez de tiros. Quer dizer, não existe mais romantismo, para não falar em argumentos convincentes. Da tua saudosa Dorinha."


Outra carta da Dorinha (18/2/2008)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, diz que só confessará sua idade minutos antes de morrer, "para que pelo menos a lápide não minta", mas que os boatos do seu caso com o Villegagnon são falsos. 

Ela estava em grande forma no Carnaval, quando bateu seu próprio recorde e desfilou em todas as escolas, do primeiro e do segundo grupo, e atrás do carro de bombeiros do Anísio. Só lamentou o vexame vivido na avenida por Cristina ("Kiti") Pinho, sua companheira, junto com Tatiana ("Tati") Bitati e outras, na "ONG soit qui mal y pense", as Socialaites Socialistas, que defendem o que consideram o único socialismo viável no Brasil, o da boca para fora. "Kiti" desfilou logo após aquela moça que deixou cair o tapa-sexo sob aplausos entusiasmados da multidão. Decidiu fazer o mesmo e ouviu a multidão gritar "Tapa! Tapa!". 

Dorinha também lamentou não ter convencido o Pitanguy a desfilar ao seu lado, para o caso de o público, entusiasmado com seu corpo, pedir "O autor! O autor!". Ela já fez tantas plásticas, que está pensando em se submeter a um exame de DNA, para saber se ainda é ela. 

Também está pensando em... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita em papel azul-turquesa com seu nome em relevo seguido de um espaço para colocar o sobrenome do seu marido do momento. 

O espaço estava vazio.

"Caríssimo! Beijos sugados, você escolhe o alvo. Sim, estou solteira. Quel joá, como disse a Cecília quando se livrou do Sarkozy! Todas as manhãs peço para quem estiver ao meu lado na cama que me belisque, para eu saber que não é sonho. 

Não quero mais maridos. O último, cujo nome me escapa no momento, concordou com todas as minhas exigências para o divórcio e descobri o mais maravilhoso substituto para marido desde que inventaram o abridor de pote: o cartão corporativo. 

Com um pouco de ginástica, pode-se até usá-lo para coçar as costas, que é a outra utilidade de marido. Com fundos ilimitados, estou pensando em relançar minha campanha para ser a primeira presidente mulher do Brasil. Ou (maldade) totalmente mulher. 

Meu slogan será O que a Cristina Kirchner, a Angela Merkel, a Michelle Bachelet e a Hillary Clinton não têm que eu também não tenho? Currículo para me eleger é que não me falta. Sem piadas, por favor. Pouca gente sabe que estive em Cuba com um grupo de estudantes. 

Era um programa de intercâmbio de Cuba com o Colégio Sion, que cursei numa das minhas juventudes. Fui até eleita rainha do grupo, com direito a passar uma noite com o Fidel. A segunda colocada ganhava duas noites com o Fidel ou o equivalente em charutos. 
E mais: depois da eleição do PT treinei o meu pequinês, Ostramond de Crecy - o nome é maior do que ele - a não mais latir para pobre. Hoje ele só rosna. 

Quer dizer: com minha eleição, depois de tantos começos falsos, finalmente, a esquerda chegará ao poder no Brasil! Da tua esperançosa Dorinha."

Outra carta da Dorinha (14/7/2008)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, lidera um grupo, as Socialaites Socialistas - Tatiana ("Tati") Bitati, Suzana ("Su") Perficial, Jussara ("Ju") Juba, Cristina ("Ki") Bobagem e outras - , que luta pela implantação no Brasil do socialismo soviético na sua fase mais avançada, que é a restauração do czarismo. 

Inclusive descobriram um garçom na Penha descendente dos Romanov, que concordou em ser czar desde que conte tempo para o INPS e estão preparando para o cargo com aulas de etiqueta, danças de salão e despotismo. 

Mas hoje, segundo Dorinha, a palavra que melhor descreve o grupo é "tremebundas". Mesmo as que fizeram lipo. Mas deixemos que ela mesmo nos conte a razão do nervosismo. 

Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta violeta em papel turquesa encabeçado pelo seu nome em relevo com um espaço em branco para o sobrenome do marido do momento, se houver. Mas desta vez com a letra trêmula. 

"Caríssimo! Beijos sombrios. Estamos preocupadíssimas. Como você sabe, deve-se tomar algumas precauções para viver no Brasil com um mínimo de tranqüilidade para a nossa prataria. 

Quase todas moramos em andares altos, de onde se pode sinalizar diretamente para a Quarta Frota americana, se for o caso. Mas o que nos ameaça agora não é a massa arrombando a porta, chutando nossos cachorros com grife e levando nossas roupas com pedigree - é a polícia! 

Um dos meus maridos, cujo nome me escapa no momento, dizia que não há maior ameaça à paz social do que uma polícia íntegra e, pior, exibida. E a polícia está prendendo gente como a gente, numa escandalosa inversão de critérios! 

Nunca se viu isso no Brasil. Onde ficam os velhos valores? Onde fica o respeito? Mais importante: que roupa pode ficar bem com algemas na TV? Uma das nossas companheiras, Constância ("Cocó") Ricó, sugere que se olhe o lado bom da coisa. 

(Foi Cocó quem nos convenceu a descer do avião que nos levaria para Miami depois da eleição do Lula com a notícia de que o Meirelles iria para o Banco Central e não havia nada a temer). 

Ela diz que, já que estaremos todas fatalmente em alguma lista do Dantas, poderemos ficar juntas numa cela e começar a reforma do sistema carcerário brasileiro por dentro, nem que seja só com alguns retoques na decoração. 

E, mesmo se não conseguirmos, é certo que haverá uma grande melhora nas prisões do país, para receber a nova e exigente clientela. E que ela quer ver falarem mal da elite brasileira depois. 

Sei não. Só quero saber se vão deixar eu levar a bolsa de água quente (Vuitton) que comprei para substituir meu último marido. Beijo, talvez o último em liberdade, da sua Dorinha."

Outra carta da Dorinha (24/11/2008)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela a idade, mas insiste que todas as especulações a respeito são exageradas. Diz que é verdade que carregou Getúlio Vargas no colo, mas ele já era presidente na ocasião. 

Dorinha decretou que nas reuniões do grupo que lidera, as Socialaites Socialistas, que lutam pela implementação no Brasil do socialismo soviético no seu estágio mais avançado, a volta ao tzarismo, todas usem crachás com seus nomes, pois com o botox ninguém reconhece mais ninguém. 

O grupo acompanhou atentamente as eleições presidenciais americanas e torceu por Barack Obama, cuja vitória, todas concordaram, representou o ápice da emocionante luta dos negros americanos contra a discriminação racial. 

Tatiana (Tati) Bitati era a mais entusiasmada com a vitória de Obama e declarou que aquilo deveria servir de exemplo para todas e ser imitado pelo grupo, só havendo um problema: ninguém conhecia um negro americano, ainda mais depois que o Ron Carter deixou de vir com tanta freqüência ao Brasil. Foi quando a... 

Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta lilás em papel turquesa perfumado, com um aviso para não aspirar demais o perfume, “Mange Moi”, o que poderia levar a cenas de furor sexual e a embaraço público.

“Caríssimo! Beijos centrifugais. Amo minhas colegas das Socialaites Socialistas mas elas costumam duvidar do que eu digo, embora eu nunca minta. Nunca acreditaram no meu caso com Randolph Scott e Marguerite Duras – ao mesmo tempo! A inveja, hélas, é um ácido social que tudo corrói. 

Foi assim quando convidei-as para conhecer o Picasso que acabara de comprar. Custaram a acreditar que era mesmo um sobrinho-neto do Picasso que estava pendurado na minha sala, apesar da certidão de nascimento e do Jean-Paul, que era como se chamava o rapaz, jurar que era autêntico. 

E foi assim quando, durante a discussão sobre a lição que a eleição do Barack Obama nos trouxera e como aproveitá-la, revelei que conhecia um negro americano a quem poderíamos demonstrar a mesma ausência de discriminação. 

Não vem ao caso como conheci o antropólogo Gideon ou qual foi o grau do nosso relacionamento, só posso dizer que ele aprendeu muitos costumes tropicais exóticos comigo e me ensinou a correta pronúncia da palavra ‘Uau!’. 

Pelo que eu sei, Gideon ainda está no Brasil, tentando nos compreender. Apesar da incredulidade de Tati e das outras, anunciei que o trarei para a nossa próxima reunião, quando poderemos fingir que ele é o Obama e nós somos americanas. 

Agora só tenho uma preocupação. Preciso avisar ao Severino, meu porteiro, que o Gideon é americano. Senão ele pensa que é brasileiro e manda subir pelo elevador de serviço. Da tua democrática Dorinha.”

Outra carta da Dorinha (19/02/2009)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela a idade. Ela há anos tem conta no Pitanguy e diz que está se aproximando dos 30, mas pelo outro lado. 

Diz que está em forma para o Carnaval e que só chegando muito perto dá para ver que seu umbigo não é mais o original, e ninguém que esteve tão perto viveu para contar. Este ano Dorinha sairá de “Crise Terminal do Capitalismo”, uma fantasia ainda mais luxuosa do que a “Apogeu e Glória do Capitalismo” que usou há alguns anos, e da qual só aproveitou as miçangas. 

Dorinha e seu grupo, as Socialaites Socialistas – Tatiana (Tati) Bitati, Kiki (Ki) Coisa e as outras – sentiram a crise econômica de perto. A loja que abriram em Ipanema, a Trapinhos, lançou uma linha de camisetas com o Milton Friedman na frente, justamente quando ninguém queria mais ouvir falar em neoliberalismo. 

Ainda tentaram transformar a cara do Friedman na cara do Keynes, mas não deu certo e elas ficaram com 10 mil camisetas encalhadas. Dorinha foi obrigada a... Mas deixemos que ela mesma nos conte. Como sempre, sua carta chegou escrita com tinta lilás em papel turquesa e com o cheiro inebriante do perfume Ravage Moi, que é proibido em vários países.

“Caríssimo: beijos preocupadíssimos. Não me lembro de passar por uma crise igual a esta desde que me deportaram da França, alegando que eu era uma ameaça à república. Meu marido na ocasião, Jean-Paul quelque chose, nada pôde fazer. Aliás, acho que foi ele que me denunciou. Sim, caríssimo, andei pela Europa e deixei lembranças explosivas, tanto que depois apelidaram Chernobyl de “Dora Avante 2”. 

O casamento com Jean-Paul – ou era Jean-Claude? – não podia dar certo: meus ciclos sexuais eram regidos pela Lua e os dele pelo cometa de Halley. Não era por nada que eu o chamava de “Le Bleuf”. De volta ao Brasil, tentei de tudo, até casar por amor, que é parecido com dinheiro, mas acaba mais depressa. 

Tive vários “relacionamentos” (o que protege a moral no Brasil não são os valores cristãos, é o eufemismo) sem fins lucrativos. Foram dias difíceis, mas venci a crise quando voltei à velha fórmula de só suportar homens que me sustentam. 

Esta crise, no entanto, parece invencível. Afeta até os muito ricos, nada mais é sagrado. Meu marido atual, um bilionário, cujo nome me escapa no momento, só não fez harakiri porque eu gritei “No tapete persa não!”. 

Finalmente, bolei uma maneira de ganhar dinheiro. Anunciei que iria escrever minha autobiografia, contanto tudo sobre os homens famosos com quem eufemismei, e desde então tenho recebido vultosas somas de dinheiro, de várias fontes, para esquecer o projeto. 

A que ponto chegamos, néspá? Da tua angustiada Dorinha. PS. Uma boa notícia: descobri uma nova zona erógena. Mas só vou revelar onde é depois de patentear. Bjs”.


Outra carta da Dorinha (18/05/2009)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha diz que só revela a sua idade sob tortura e se o torturador pedir com modos, mas nega que tenha sido a primeira brasileira a usar biquíni numa praia e que só não tirou a parte de cima porque o padre Anchieta estava por perto. 

Dorinha instruiu seus netos a chamá-la de “Mana” em público e no espaço para a data de nascimento na sua carteira de identidade lê-se “Adivinha”. Aliás, a questão da identidade tem sido um problema para Dorinha e seu grupo, as Socialaites Socialistas, que hoje defendem um socialismo moreno, bem moreno, na linha do Barack Obama, para o Brasil. 

Como todas estão usando botox, ninguém reconhece mais ninguém, os rostos não combinam com o do crachá e as reuniões do grupo têm sido caóticas. No outro dia Tatiana (“Tati”) Bitati desconfiou que Cristina (“Ki”) Coisa não fosse Cristina (“Ki”) Coisa e sim um travesti e as duas se atracaram e rolaram pelo chão. Apesar disso, as reuniões têm se realizado e... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte.

Sua carta chegou, como sempre, escrita com tinta grená num papel turquesa, perfumado com Ravage Moi, sua fragrância favorita. Que, como se sabe, foi proibida em vários países depois de causar tumultos.

“Caríssimo: beijíssimos! Estamos em campanha! As Socialaites Socialistas lançarão meu nome para concorrer à Presidência da República. Iremos atrás do voto feminino com o slogan ‘

O que é que qualquer outra candidata mulher não tem que eu também não tenho?’. Como você sabe, me separei do meu último marido, o Senador (ou era deputado? nunca perguntei), quando descobri que ele estava viajando todos os meses para Miami ou Paris com uma amante diferente, com passagens pagas pelo Congresso, portanto pelo contribuinte – portanto, por mim! Quando ele dizia que estava indo ‘perscrutar as bases’, estava se referindo às bases das moças. 

Mas estou pensando em me reconciliar com ele, pois vou precisar de passagens de graça para levar a todo o país minha mensagem de moralização e austeridade, além de contar com o seu remorso para suprir meu caixa 2. A Dilma tem o Lula, mas eu vou atrás do apoio do Barack, se conseguir encontrá-lo longe da Michelle. 

Exporei meu programa econômico, que é parecido com o dele – muito dinheiro para os ricos em dificuldade, que, afinal, são a nossa gente – e se isto não funcionar... Bem, sempre tem aquele meu pretinho com o decote em V profundo, que até hoje nunca falhou. 

Só o que eu quero é uma frase do Barack: ‘That’s my girl’. Da tua esperançosa Dorinha”.


Outra carta da Dorinha (30/07/2009)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, nega que tenha a idade que lhe atribuem e que não pode mostrar sua certidão de nascimento porque o papiro se desmancharia em contato com o ar. 

Ela há muito não escrevia e chegou a correr o boato de que fora sugada numa lipoaspiração mal feita e desaparecera para sempre. Mas Dorinha continua inteira e bem e mais ativa do que nunca à frente do seu grupo de pressão, as Socialaites Socialistas. Que tem tido problemas, segundo Dorinha. Como aumentou o uso do botox no grupo, as Socialaites Socialistas às vezes custam a se identificar umas às outras. 

Nas reuniões, ninguém reconhece mais ninguém e há dias Dorinha confundiu sua amiga mais antiga, Tatiana (“Tati”) Bitati (“Nos conhecemos numa das minhas infâncias”), com o Léo Batista. De agora em diante todas terão que usar crachás com o nome e fotografias renovadas diariamente. Ainda mais que o grupo se organiza para ir a Brasília e... 

Mas deixemos que Dorinha nos conte em suas próprias palavras, manuscritas com tinta grená em papel azul turquesa perfumado com Ravage Moi, o único perfume do mundo que precisa ser registrado na delegacia de costumes mais próxima antes de ser usado.

“Caríssimo! Beijos babados, para compensar o tempo em que não dei notícias. Desconsidere todas as versões sobre o meu silêncio. Não, eu não estava escrevendo minha autobiografia sentimental e estudando propostas milionárias para suprimir os trechos que falam dos políticos que faziam comigo o que faziam figurativamente com o país, em alguns casos também figurativamente. 

Também é falso que tenha me retirado para um convento para purgar “mes péchés” (confie nos franceses para dar o mesmo nome a pecado e pêssego), levando apenas um camisolão de aniagem e Paulão, meu personal. 

Estava organizando a marcha das Socialaites Socialistas sobre Brasília, onde iremos manifestar nosso apoio a Sarney, o senador da República que melhor interpreta o preceito cristão de dar prioridade à família e é um exemplo para a nação nestes tempos de valores degradados. 

Esperamos mobilizar a multidão e assistir a passeatas a favor do incompreendido Sarney. De uma cobertura, porque gosto de povo, mas visto de cima. Da tua engajada de novo Dorinha.”

Outra carta da Dorinha (21/12/2009)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, nunca revela sua idade, e atribui perguntas a este respeito à “curiosidade mórbida”, mas admite que esteve presente em muitos momentos históricos. Às vezes, inclusive, como coadjuvante, embora negue que tenha liderado o troca-troca de casais no baile da Ilha Fiscal.

Dorinha e seu grupo de pressão, as Socialaites Socialistas, que lutam pela implantação no país do socialismo soviético na sua fase mais avançada, que é a volta ao tzarismo, têm se envolvido em movimentos importantes do Brasil e do mundo. Uma das Socialaites, Tatiana (“Tati”) Bitati, chegou a participar de uma invasão de terras com o MST, até se dar conta de que as terras eram dela.

Agora mesmo, o grupo mandou... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte em sua carta. Escrita, como sempre, com tinta grená em papel púrpura, com um brasão de significado obscuro – um javali comendo debêntures – num canto.

“Caríssimo! Beijíssimos! Foi um sonho o responsável pela minha súbita aquisição de uma consciência ecológica. Como você sabe, sempre acreditei que o aquecimento global seria compensado por mais e melhores aparelhos de ar condicionado, e não tínhamos com o que nos preocupar. Mas na outra noite eu estava dormindo, para variar um pouco, com meu próprio marido, cujo nome me escapa no momento, e tive um sonho estranho. 

Sonhei que estava na cama na nossa casa em Angra e alguém me enlaçava com um braço. Eu já ia até dizer “Agora não, querido, seja quem for” quando notei que o braço era grande, molenga e tinha ventosas. Era um tentáculo de polvo! O mar tinha subido e entrado no nosso quarto. Nossa cama estava boiando. 

Tudo no quarto estava boiando. A água não parava de subir. E, como se isto não bastasse, o polvo começara a mordiscar minha orelha. Acordei num pulo. Pela primeira vez, me dei conta de que quando os mares subirem, nos afogaremos todos, democraticamente, e os condomínios fechados à beira-mar serão os primeiros a desaparecer. 

No mesmo dia convoquei uma reunião das SS e decidimos mandar uma delegação a Copenhague para defender nossa classe. Infelizmente, a conexão era em Paris, o avião para Copenhague iria demorar, fomos até a cidade fazer compras, o tempo estava lindo... Resultado: continuamos em Paris, de onde te escrevo. 

Não chegaremos a Copenhague a tempo de salvar o mundo. Pelo menos, não este. Da tua Dorinha”.

Outra carta da Dorinha (15/2/2010)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, sempre teve grande intimidade com o poder, embora negue que chamasse o Washington Luiz de Vavá. 

Ela reconhece que sua idade não é a que consta nos seus documentos, já que cada vez que sai da clínica do Pitanguy faz outro registro de nascimento, mas diz que as pessoas exageram. Ela deixou de frequentar os salões presidenciais durante a ditadura, em protesto não contra o poder discricionário dos militares, mas contra o que suas mulheres usavam. 

Jurou que só voltaria ao Planalto na posse de um civil, para não sofrer outro trauma cívico com o tafetá, mas teve que ser retirada numa ambulância, desfalecida, depois de ver o jaquetão do Sarney. Mesmo com os breves intervalos Ralph Lauren com Collor e mineiro básico com Itamar, Dorinha estava convencida de que gente “comme nous” jamais chegaria ao poder no Brasil. 

Não mudou de opinião nem com o Fernando Henrique, cujo estilo ela chamava de “intelectual amassado”. E depois veio o... Mas vamos deixar que a própria Dorinha nos conte na sua carta, escrita, como sempre, com tinta púrpura em papel lilás cheirando a “Ravage Moi”, um perfume condenado pela CNBB.

“Caríssimo! Beijíssimos. Escolhe um lugar decente. Sim, tenho pensado muito no que nos aconteceu nestes últimos anos. Lembro das vezes em que eu e o Mario Amato nos encontrávamos, nos abraçávamos e chorávamos, aterrorizados, ele com o que esperava o empresariado nacional com a eleição do Lula, eu com os horrores que passaríamos a ver em matéria de moda, em Brasília. 

(Eu não tinha dúvida de que Lula tomaria posse de macacão). Ambos temíamos o que nos reservava o futuro sob uma ditadura do proletariado, e não adiantava tentar pensar no gulag como um spa para emagrecimento involuntário. 

Meu marido na ocasião, cujo nome me escapa no momento, chegou a construir um abrigo anti-PT, onde nos refugiaríamos, com nossa prataria, alguns enlatados e águas Perrier e San Pellegrino até que chegassem os americanos. 

Finalmente apareceu uma força política capaz de nos salvar do PT – o próprio PT! O governo Lula não foi nada do que a gente imaginava e nem as roupas da dona Marisa chegaram a assustar, muito. 

E preciso dizer uma coisa: foi bom o Fernando não propor ao Lula que comparassem guarda-roupas em vez de governos, pois o Lula, no quesito passeio completo, quem diria, venceria. Não se tem notícia de uma transformação tão radical na política brasileira desde que o Zé Dirceu perdeu o seu “r” de Passa Quatro.

Enfim, me preparo para o Carnaval, com vitaminas, meditação e líquidos, muitos líquidos. Não, este ano não serei madrinha de nenhuma bateria. 

Tive um sonho em que meu salto ficava preso no asfalto, eu morria atropelada por trezentos ritmistas e era retirada da pista pelos garis dentro de um tonel de lixo, triste fim para uma mulher que, como disse alguém, justificou o século. Não pergunte qual! Da tua precavida Dorinha”.


Outra carta da Dorinha (3/5/2010)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela sua idade e diz que não comemora mais aniversário “para não banalizar a data”. Nega, no entanto, que ela e o Ruy Barbosa “ficaram” durante uma festinha. Depois de tantas plásticas, Dorinha está pensando em fazer um teste de DNA para saber se ela ainda é ela, pois desconfia que só o que sobrou de autêntico foi o botox. 

Dependendo do resultado do teste, se lançará como candidata à presidência da República, com o slogan “O que é que a Dilma não tem que eu também não tenho?” Segundo a Dorinha, se a História do Brasil prova alguma coisa, é que presidente homem não dá certo. “Cromossomo não é neurônio” , é outras das suas frases de campanha. 

Ela procura o apoio de uma sigla decente, já que as indecentes estão todas comprometidas. Espera formar uma coligação, sendo esta a primeira vez na sua vida em que pede uma aliança sem precisar dizer que está grávida. Sua campanha... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta roxa em papel violeta, cheirando a “Mange Moi”, um perfume condenado pelo Vaticano.

“Caríssimo: beijíssimos! Sim, minha campanha está nas ruas, seguida, por enquanto, apenas pelos cachorros. Nas pesquisas estou empatada com não sabem ou não quiseram opinar. Mas as pesquisas são falhas: ignoram um grande segmento da população, formado por todos os meus ex-maridos. 

(No momento, por sinal, estou livre como um táxi, e só aceitando corridas curtas). Contratei um marqueteiro para orientar minha campanha, mas o despedi depois que ele sugeriu que eu me apresentasse com os netos, para ganhar o voto coisa mais fofa. 

Eu sempre disse que os netos são como as rugas para mostrar a idade, com a diferença que para as rugas têm cremes. Vou cuidar da minha própria imagem na TV, expondo meu ideário político e econômico (por exemplo: sempre achei que não há nada de mal com a concentração de renda se for feita com bom gosto) e os meus seios. 

Quero ver o Serra fazer o mesmo! Aliás, me ofereci para ser a vice na chapa do Serra, mas recusaram, com a absurda alegação de que eu ofuscaria o candidato nos palanques. 

Só um poste não ofuscaria o Serra, mas o Marco Maciel não aceitou. Dizem que o Serra falando em comício é tão chato que o público aplaude microfonia! Enfã, estou na luta e espero o seu voto. Da tua Dorinha”.

Outra carta da Dorinha (30/8/2010)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, sempre esteve envolvida com política, embora negue que fosse cabo eleitoral do Epitácio Pessoa. Ela confirma que carregou, sim, o Getúlio Vargas no colo, mas diz que ele já era presidente na ocasião. 

À frente do grupo de pressão Socialaites Socialistas, que luta pela implantação no Brasil do socialismo na sua etapa final, antes da volta ao tzarismo, Dorinha chegou a ser cogitada como candidata a presidente da República. Foi descartada, justamente quando já tinha acertado com o PMDB todos os cargos que eles teriam no governo em troca do seu apoio, segundo ela, “porque queriam uma mulher, mas não mulher demais”.

Apesar disso, ela e seu grupo (Tatiana “Tati” Bitati, Susana (“Su”) Cata, Olenka (“Ó”) Minas Gerais e outras) continuam ativas, num trabalho de conscientização política da população visando às próximas eleições. No momento, por exemplo, fazem um seminário reunindo os seus “personal trainers”, para... 

Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta chegou, como sempre, escrita com tinta roxa em papel grená, perfumado com “Ravage Moi”, o único perfume do mundo que vem com um habeas corpus preventivo para o caso de prisão por atentado ao pudor.

“Caríssimo. Beijos disseminados. Como você sabe, todas as Socialaites Socialistas têm ‘personal trainers’ em diferentes estágios de evolução. O meu, Jorjão, é da era quaternária, quando apareceram os primeiros bíceps. 

Cada uma de nós tem seu ‘personal’, mas fazemos intercâmbio, para escapar da rotina, que é a segunda maior inimiga de uma vida sexual saudável depois da comichão de fundo alérgico. 

São todos eles bons rapazes, surfam, correm e fazem abdominais com muita inteligência, mas são inocentes em matéria de política. Tivemos que repetir a primeira aula do seminário, sobre o voto eletrônico e a máquina de votar, porque nem todos entenderam o conceito de ‘tecla’.

O Jorjão, especialmente, vem acompanhando com atenção os programas eleitorais e ainda não conseguiu compreender por que o Serra, que é candidato à Presidência, está fazendo a propaganda do Lula, que ele nem sabia que também é candidato à Presidência, enquanto o Lula apoia a Dilma para o mesmo cargo. Tenho tentado explicar, mas também me atrapalho, ainda mais quando ele começa a morder minha orelha. Da tua confusa Dorinha.”


Outra carta da Dorinha (6/12/2010)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha diz que só Deus, que é como ela chama o Pitanguy, sabe a sua idade, mas nega que tenha participado da coluna Prestes como estagiária. 

Nunca deixou de se interessar por política, no entanto. Ela e seu grupo de pressão, as Socialaites Socialistas, lutam pela implantação no Brasil no socialismo soviético na sua etapa mais avançada, que é a volta ao tzarismo, e tem estado presente em todos os principais momentos da nacionalidade, nos últimos anos.

Dorinha estava com Jânio Quadros na sua última noite em Brasília e foi ela que persuadiu o presidente, que queria fazer algo espetacular para terminar a noite, a renunciar em vez de subir no mastro da bandeira da esplanada só de cuecas. 

Ela e alguma das suas companheiras – Tatiana “Tati” Bitati, Violeta “Vi” Scosa, Kiki “Ki” Coisa e outras – só não foram ao palácio para defender o Jango no golpe de 64 porque não conseguiram decidir o que usar. Dorinha ainda tem o bilhete que recebeu do Fernando Henrique pedindo que ela queimasse suas cartas e esquecesse tudo que ele tinha lhe escrito depois daquele fim de semana em Guarapary. E etc. e etc.

Por isso Dorinha não acha certo que, justamente agora, quando alguém do mesmo gênero chega à Presidência da República, não se recorra às Socialaites Socialistas para preencher cargos no governo. 

Ela mesmo diz que está com seu tailleur pronto para servir, só esperando que a Dilma... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta chegou, como sempre, escrita em papel lilás com tinta púrpura e perfumado com “Mange Moi”, que foi condenado pelo Vaticano em recente homilia.

“Caríssimo! Beijos úmidos. Estamos em campanha por cargos no ministério da Dilma. Conhecemos nossos competidores, os homens, e principalmente essa variedade particularmente insidiosa de homens chamada PMDB. Mas não desanimaremos. Iremos à luta e já escolhemos as armas: confronto de ideias e, se a coisa engrossar, saltos de sapato. 

O fato de ter apoiado a Dilma não dá ao PMDB direito à maioria dos cargos. Nós também apoiamos a Dilma. Pouca gente sabe que fui eu que atirei aquela bola de algodão na testa que fez o Serra desmaiar. Isso não vale um ministério? O que o Sarney tem que nós não temos? O bigode, certo, mas o que mais? Chegou a hora das mulheres, e a Dilma sabe o meu telefone.

Outra carta da Dorinha  (07/03/2011)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se recorda, acidentou-se no último Carnaval, quando desfilou na Sapucaí como madrinha da bateria de uma escola. Ela não conseguiu acompanhar o ritmo da escola e foi atropelada pela bateria. 

Além dos arranhões e da perda de miçangas, sofreu o que ela chama de “escoriações morais”, pois foi bem na frente do camarote da Brahma. Este ano, Dorinha desfilará outra vez como madrinha da bateria, mas de patinete.

Como todos os anos, ela preparou-se para o Carnaval internando-se no Pitanguy durante quatro meses, só saindo de lá com a garantia de que nada que foi esticado se soltaria na avenida, por mais que ela rebolasse. Dorinha também diz que... Mas deixemos que ela mesmo nos conte. Sua carta veio em papel roxo, escrita com tinta carmim e cheirando a Mange Moi, o perfume que tira o sono do Papa.

“Caríssimo! Beijíssimos! Sim, estarei na avenida de novo, recordando meus velhos triunfos. Você se lembra da vez em que desfilei completamente nua com apenas um retratinho do Fernando Henrique como tapa-sexo, para protestar contra a política econômica do seu governo? 

Como eu ia saber que a política econômica do Lula seria igual à do Fernando Henrique, só que de barba? Pensei em repetir a fantasia trocando o retratinho, mas um tapa-sexo barbudo poderia ser mal interpretado.

Minhas manifestações políticas não foram em vão, no entanto. Até hoje tenho certeza que aquela minha alegoria sobre a necessidade de renovação na política, usando a renovação dos meus seios como exemplo, foi responsável pelo afastamento do cenário nacional de figuras como José Sarney, Renan Calheiros e Jader Barbalho, de quem nunca mais se ouviu falar, se é que não estou mal informada.

Minhas companheiras do grupo de pressão Socialaites Socialistas, que luta pela instalação no Brasil do socialismo no seu estágio mais avançado, que é o fim, – Tatiana (“Tati”) Bitati, Betania (“Be”) Steira, Cristina (“Kika”) Tástrofe e as outras – formarão uma ala toda de tailleur e carregando moto-serras, simbolizando a Dilma e os cortes no orçamento. Não pretendo ser abalroada de novo pela bateria, mas se acontecer já combinei com o Gustavão, que toca surdo de repique, para me salvar.

Estou chegando naquela idade em que o repique começa a ser um conceito interessante. Ainda se diz ziriguidum? Beijão da tua Dorinha.”

Outra carta da Dorinha  (20/06/2011)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Sim, ela está viva. A notícia de que teria desaparecido durante uma lipoaspiração que não soubera onde parar foi um pouco exagerada, segundo suas próprias palavras. Dorinha, como se sabe, não revela a idade. 

Diz que não comemora mais seu aniversário “para não banalizar a data”. Só Deus e o Pitanguy sabem quantos anos ela tem, e Dorinha confia na discrição dos dois. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta grená em papel violeta aromatizado com o perfume “Mange moi” – que, de acordo com a defesa do Strauss-Kahn, era o que a camareira da Guiné estava usando naquela tarde.

“Caríssimo. Beijíssimos! Sim, sou eu, ou um fac-símile razoável. Acho que depois da última plástica sobrou muito pouco do original. Não, eu não estava morta, estava em Miami, que é pior. Na volta, vim num avião com 300 crianças, todas com chapéus do Mickey Mouse. Cada vez entendo menos as críticas a Herodes, claramente um injustiçado. Na praia, conheci um surfista chamado Dwayne, que gostou tanto dos meus seios que não tive coragem de dizer que nenhum dos dois era meu. 

Como você sabe, fui a primeira mulher a fazer ‘topless’ numa praia brasileira, embora não seja verdade que o padre Anchieta protestou. Dwayne e eu conversamos, apesar de ser difícil saber quando um americano está falando ou mascando chiclete mais alto, e marcamos um encontro mais tarde na minha cama. 

Onde nos conhecemos no sentido bíblico mas numa versão condensada, passando rapidamente de Atos a Apocalipse, pois descobri que o Dwayne se chamava Argemiro e era de Governador Valadares. E não queria ser pago em dólares mas em reais, que valem mais. No verão que vem, Praia de Ramos. Onde, pelo menos, quando você exclama ‘Jesus!’, não aparecem três cubanos e dizem ‘si?’.

Mas tudo isso é para contar que eu e meu grupo, as Socialaites Socialistas – Tatiana (‘Tati’) Bitati, Lusimara (‘Lus’) Trosa, Cristina (‘Qui’) Coisa e as outras –, estamos nos mudando para Brasília, para estarmos por perto caso a Dilma nos chame para o ministério. Não é para bajular, mas sou totalmente a favor do sigilo eterno para os documentos da República. Vai que apareçam os versinhos safados que o marechal Dutra me mandava! Da tua Dorinha.”


Outra carta da Dorinha  (16/01/2012)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não confessa a idade, mas diz que quando passa o cometa de Halley ela nem olha mais. Mas continua ativa à frente do seu grupo de debate e pressão, as Socialaites Socialistas, que pregam a implantação no Brasil do socialismo no seu último estágio, que é a volta ao tzarismo. 

Elas, inclusive, já descobriram um descendente dos Romanov que é garçom no Meier e diz que topa ser tzar se puder contar tempo para o INPS.

Com a proximidade do Carnaval, Dorinha tem se reunido quase que diariamente com o Pitanguy para planejarem sua repaginação, ou o corpo com que desfilará na avenida este ano. “Ainda estamos na fase dos esboços e cálculos estruturais”, conta Dorinha, que... Mas deixemos que ela mesma nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta púrpura em papel grená e cheirando a “Mange Moi”, o único perfume do mundo que já foi objeto de uma encíclica papal.

“Caríssimo! Beijos centrifugais. Sim, estaremos na avenida, eu e meu grupo. Só não sairei no Carnaval quando estiver morta, e assim mesmo terão que sentar no meu túmulo. Este ano, tomaremos especial cuidado com nossas próteses mamárias e glúteas, depois que no ano passado as duas nádegas da Júlia (“Ju”) Bileu explodiram, uma atrás da outra, ainda na concentração, atrapalhando a marcação. E eu mereço me descontrair neste Carnaval.

Minha vida econômico-sentimental em 2011 foi estressante. Quel des frustraciones! Depois de me separar do meu marido mais recente, cujo nome me escapa no momento, decidi me dedicar ao primeiro escalão do governo, onde circula o dinheiro de verdade. Meu objetivo era um ministro da Dilma. Com um pé – para não citar outras partes da minha anatomia – num ministério da República, eu estaria feita, pelo menos até o fim do mandato dele. 

Mas os ministros não paravam no lugar. Era eu mirar um ministro e a Dilma o botava na rua. A instabilidade institucional derrotou meus planos de independência financeira e, quem sabe (meu lado Evita), alguma influência nos destinos da nação. Não consegui ser amante ou sequer auxiliar de gabinete de nenhum deles, nem por 10 minutos. 

Estou, por assim dizer, de volta à planície, caçando animais menores. E à espera de que o próximo ministério da Dilma seja mais estável. Por mim, Dilma!

Da tua suspirosa Dorinha”.

Outra carta da Dorinha  (20/02/2012)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, até hoje só perdeu um Carnaval, foi quando morou um ano no Exterior com um milionário cujo titulo ela não se lembra (“Duque, Sultão... Sei que era nome de cachorro”). O romance durou pouco porque ele tinha lhe jurado que era do “jet set”, mas se revelou um teco-teco na cama.

Até hoje Dorinha só se refere a ele como “Le Blef”. Fora este interregno impensado, Dorinha nunca deixou de desfilar no Carnaval. Inclusive com sacrifícios pessoais, como na vez em que saiu como destaque num pedestal tão alto que ficou presa na rede elétrica e foi salva por um bombeiro chamado Eudir, com quem ela não tem certeza, mas acha que se casou depois. 

Ficou famosa a sua passagem triunfal na avenida como rainha da bateria, só de tapa-sexo e puxando o Pitanguy pela mão, para o caso de o público começar a gritar “O autor! O autor!”.

Por tudo isto, pode se compreender seu desalento com a possibilidade de não desfilar este ano. Sim, ela e seu grupo de pressão política e carteado, as Socialaites Socialistas, estão ameaçadas de serem cortadas do desfile da sua escola, porque...

Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta púrpura em papel rosa e com aroma de “Sacanage”, um perfume recém-lançado e já banido em vários países.

“Queridíssimo. Beijos tristes e babados. Agora esta: estão preocupados com a quantidade de brancos nas escolas de samba e a solução, na nossa escola, foi adotarem um sistema de cotas! Parece que se deram conta da gravidade da situação quando descobriram que justamente este ano, quando o tema da escola é “Esplendor de um rei Nagô”, a porta-bandeira será canadense e o mestre-sala dinamarquês, e os dois aprenderam a evolução por correspondência.

Concluíram que se não fosse tomada uma resolução drástica agora em breve teríamos baterias formadas só de alemães. Como o ritmo dos desfiles fica cada vez mais marcial, nesse quesito os alemães não seriam problema. Problema seria eles não pararem na praça da Apoteose, seguirem adiante e invadirem a Polônia.

Concordamos que alguma coisa deve ser feita, mas o fato é que as cotas para brancos já foram todas preenchidas por um grupo ucraniano e não sobrou nada para as Socialaites Socialistas, vítimas de odiosa discriminação.

Pensamos em muitas maneiras de contornar a situação, todas envolvendo algum tipo de escurecimento rápido da pele, culminando com a decisão da Tatiana (“Tati”) Bitati de mergulhar em tinta nankin. Mas temos pouco tempo. E o impensável talvez aconteça.

Este ano, a avenida pode não ver Dora Avante. Domage. Estou com seios novos, ainda não testados em público. Assim passam as glórias, e as doras, deste mundo. Beijíssimo da tua Dorinha”.




Outra carta da Dorinha  (25/06/2012)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Segundo Dorinha, só Deus e o Pitanguy sabem a sua idade e ela confia na discrição dos dois. Com o advento do Botox, as reuniões do seu grupo de pressão política e carteado, as Socialaites Socialistas, que prega a implantação no Brasil de socialismo soviético no seu estágio mais avançado, a restauração do tzarismo, têm sido confusas.

Ninguém aparece com a mesma cara duas vezes e fica difícil distinguir as companheiras legítimas - Tatiana (“Tati”) Bitati, Susana (“Su”) Adouro, Monica (“Mo”) Cassim, etc - de agentes da Polícia Federal infiltradas no grupo. Sim, as Socialaites Socialistas estão sendo investigadas! Elas... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio escrita com tinta púrpura em papel magenta e cheirando a “Ravage Moi”, um perfume proibido em vários países.

“Caríssimo! Chupões. Desconfiei que estavam gravando meus telefonemas porque cada vez que eu fazia ou recebia uma chamada ouvia uma voz dizendo “Silêncio no estúdio”. Pensei que estivessem investigando um dos meus ex-maridos, o barra 8.

Nunca consegui guardar o nome dos meus maridos e os identificava pelo final das suas contas bancárias. O barra 8 era tão corrupto que recebia cartas de fã do Maluf. Mas não, as investigadas somos nós. Que ultraje! Conseguimos desmascarar três agentes da PF que participavam do nosso chá das terças com crachás falsos porque os bigodes que usavam como disfarce se desmancharam no bafo do chá.

Chegamos a tal ponto de dissolução moral neste país que não se pode confiar mais nem em crachá. Você sabe que eu não tenho nada contra a dissolução moral desde que seja feita com bom gosto, mas francamente. Arrancamos confissões das agentes com a ameaça de anodizar os seus soutiens de ferro. Aparentemente, há a suspeita de que as Socialaites Socialistas são financiadas pelo Carlinhos Cachoeira, como todo o mundo. Calúnia!

Está certo, uma vez usei o jatinho do Carlinhos para não perder a hora no dentista, mas sentei bem atrás e não aceitei os canapés! Estou disposta a depor na CPI para limpar o nome das Socialaites Socialistas, que vivem honradamente das pensões de ex-maridos e de aplicações em renda fixa. Da tua indignada Dorinha.”

Outra carta da Dorinha  (11/02/2013)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não confessa a idade, mas diz ser absolutamente falso que o número do seu primeiro telefone era 2, porque o 1 era do Alexander Graham Bell.

Ela desistiu de desfilar como madrinha de bateria neste Carnaval depois do lamentável incidente, ainda não devidamente esclarecido, do ano passado, quando seu tapa-sexo engatou num agogô.

Dorinha ainda não sabe o que vai fazer no Carnaval, só sabe que quer manter uma distância segura de qualquer desfile, inclusive porque ainda não recuperou o tapa-sexo. Ela está até pensando em... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta lilás em papel azul, cheirando a “Oui! Oui!”, um perfume banido em vários países.

“Caríssimo! Beijos estalados, você escolhe onde. Estou num impasse. Na verdade, estou numa sauna mista, o que explica a tinta corrida, mas indecisa. Ainda não decidi como fugir do Carnaval.

Todos sabem que já tive meus momentos de glória na avenida, incluindo a vez em que eu e o Clóvis Bornay fomos destaques juntos e ficamos presos na fiação durante meia hora, aproveitando para pôr as fofocas em dia. Outra vez, desfilei com os seios nus, com grande sucesso, mas, infelizmente, quando o público começou a gritar ‘O autor! O autor!’, o Pitanguy não apareceu.

Este ano, pensei em fazer um retiro espiritual. Eu e o meu ser interior temos nos encontrado pouco, no máximo um ‘oi’ ao nos cruzarmos, e esta seria uma oportunidade para nos conhecermos melhor, fazer cobranças e estabelecer um relacionamento estável – desde que o safado não me corte o cigarro, a bebida e o sexo. Cheguei a procurar um convento para me informar sobre internamento numa cela até a Quarta-Feira de Cinzas, mas não chegamos a um acordo, por detalhes.

A soror não concordou com meus pedidos: uma cela espaçosa, para no mínimo 40 pessoas, pois eu levaria alguns amigos; colchões em vez de palha nas camas de pedra, uma geladeira, alguns canapés, um sonzão e um DJ.

Meu grupo, as Socialaites Socialistas, tenta me convencer a esquecer o trauma do ano passado e sair com elas, anonimamente. Todas usarão máscaras do Renan Calheiros, ninguém me reconheceria. Não sei. Ah, decisões, decisões. Um beijo da sua hesitante Dorinha.”

Outra carta da Dorinha (20/01/2014)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela sua idade para ninguém, só diz que não é verdade que já viu o Cometa Halley passar duas vezes. À frente do seu grupo de pressão política e carteado, as Socialaites Socialistas, que lutam pela implantação no Brasil do comunismo soviético na sua ultima etapa, a da volta ao tzarismo, Dorinha se mantém ocupada o ano inteiro, o que não a impede de fazer a coisa que mais gosta, pelo menos entre as publicáveis: viajar. Ela ainda se lembra do tempo em que mandava fazer vestido especialmente para andar de avião, e todos os seus maridos só viajavam de paletó e gravata, e em viagem você só encontrava contribuintes da mesma categoria tributária que você, ou pelo menos do mesmo grau de sonegação, enquanto hoje... Mas deixemos que a própria Dorinha faça a sua queixa. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta turquesa em papel lilás, cheirando a “Mange moi”, um perfume recentemente denunciado pelo Papa Francisco para agradar à ala conservadora da Igreja.

“Caríssimo! Roto-beijos! Bons tempos em que a gente viajava não para alargar nossos horizontes culturais, mas para, na volta, dar inveja nos que não podiam. Me lembro do tempo em que não se encontrava brasileiros nem em Miami. Encontrava-se muitos cubanos, é verdade. Se por alguma razão você exclamasse ‘Jesus!’ na rua, sempre tinha um por perto que respondia ‘Sí?’ Mas os cubanos eram simpáticos, e todos anticastristas, o que me enternecia a ponto de levar vários para a cama. Hoje Miami é um subúrbio do Brasil, e Orlando sua colônia de férias. Já tive a experiência de viajar para a Flórida num avião cheio de ruidosas crianças brasileiras a caminho da Disneyworld, o que só reforçou minha convicção de que Herodes foi um incompreendido. Na Europa também era raro se encontrar alguém falando português, inclusive em Portugal. Lembro que um dos meus maridos brasileiros, cujo nome me escapa no momento, insistiu em visitar sua conta na Suíça (era um sentimental) e descobriu que o banco o identificava como ‘El mexicano’. Na época, nem corrupto nacional era reconhecido. Hoje você não pode andar na rua em Paris ou Londres sem ouvir português por todos os lados. Você não pode, principalmente, falar mal do grupo na mesa ao seu lado porque é quase certo que sejam de Presidente Prudente e estejam entendendo tudo. Você sabe que eu sou uma democrata e até já dei jantar pro Lula — não com a louça boa, claro — mas é preciso haver um limite! Que graça tem chegar de viagem e contar o que eu vi para minha diarista e ela dizer que a catedral de Chartres é bonita, mas não se compara ao Taj Mahal? Assim, decididamente, não dá. Da tua lamurienta Dorinha.”



Outra carta da Dorinha (3/3/2014)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, diz que só Deus e o Pitanguy conhecem sua verdadeira idade, e confia na discrição dos dois. Ela confirma que foi a primeira mulher a fazer “topless” numa praia brasileira, mas nega que teve que parar porque o padre Anchieta protestou. Mesmo assim, a história da Dorinha se confunde com a história do Brasil.

E ela conta que o que alguns presidentes fizeram, figurativamente, com o país, fizeram com ela, na cama – às vezes figurativamente também, suspira. Dorinha mantém até hoje o que chama de “laços estreitos” com figuras importantes da República, mas nada que envolva arreios ou chicote. Ficou muito enternecida com o uso repetido do termo “vaquinha” que tem visto no noticiário atual, porque era assim que chamava, carinhosamente, seu quarto ou quinto marido, entre outras razões porque nunca se lembrava do seu nome.

Dorinha e seu grupo de carteado e pressão política, as Socialaites Socialistas, que pregam a instalação no Brasil do socialismo soviético na sua etapa mais avançada, que é a volta ao feudalismo czarista, se reuniram para planejar sua participação no... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio escrita com tinta turquesa em papel rosa, cheirando a “Engorge moi”, um perfume proibido em vários países.

“Caríssimo: roto-beijos! É Carnaval e, como acontece todos os anos, tivemos que escolher entre a purificação de nossas almas e uma profunda reflexão sobre a condição humana, saindo na Sapucaí, ou o abandono lascivo de um convento. Você sabe como fiquei traumatizada depois do meu acidente há dois anos, quando desfilei como destaque fantasiada de Pássaro do Paraíso, perdi o equilíbrio e cai do pedestal, abanando freneticamente minhas asas de acrílico na vã tentativa de sair voando em vez de me estatelar no asfalto. Que vexame. No ano passado, decidimos que ninguém sairia de destaque, desfilaríamos todas no chão, com o povo, ou coisa parecida.


Mas como só havia vagas na ala dos turistas, que na escola chamam de Ala Scholl, acabamos no meio de uma delegação do Rotary Club do Paraná, que parou na frente do camarote da Brahma, para ver os artistas, e se recusava a andar, prejudicando nossa cronometragem. Este ano resolvemos sair de Black Block Estilizado, com o rosto tapado e o resto do corpo completamente nu. Não sei qual será a reação das arquibancadas e das autoridades. Por via das dúvidas, já preparei meu recurso infringente. Da tua Dorinha, na expectativa”.

Outra carta da Dorinha (8/9/2014)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, a única brasileira que tem caderno no Pitanguy, diz que o mundo só saberá sua idade vendo os anos de nascimento e morte na sua lápide e fazendo a conta, e mesmo assim pode ser mentira. Como morrer não está nos seus planos, o assunto é acadêmico.

Dorinha tem sido pouco vista em acontecimentos sociais ultimamente (ela contratou uma dublê para sair em todos os números da Caras no seu lugar) porque esteve ocupada planejando sua campanha para a Presidência da República.

As reuniões do seu comitê eleitoral, formado por integrantes do grupo de carteado e pressão política “Socialaites Socialistas”, têm sido dificultadas pelo uso indiscriminado de botox entre as participantes, o que impossibilita sua identificação e prejudica a detecção de eventuais espiões.

Outro problema que a campanha está enfrentando é... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio escrita com tinta lilás em papel púrpura cheirando a Mange Moi, um perfume proibido em vários países.

“Caríssimo! Beijos úmidos. Sim, sou candidata. Se é para ter uma mulher na Presidência, que seja uma mulher e tanto. Minhas credenciais para o cargo são impecáveis, sem falar no meu corpo perfeito e na minha receita de alcachofras à la Venere, que já enlouqueceram muitos, o corpo e as alcachofras.

Tenho, inclusive, experiência própria numa das principais questões das próximas eleições, o casamento gay. Cansada da repetição aborrecida em todos os meus casamentos – sempre homem, sempre homem – resolvi experimentar com mulher.

Eu e minha fiel companheira Tatiana (“Tati”) Bitati nos casamos só para saber como seria. Acabamos brigando por uma bobagem, o lugar para as calcinhas de cada uma na banheira, e nos divorciamos. Mas eu traria meu conhecimento do tema para os debates, enriquecendo-os. Inacreditavelmente, até agora nenhum partido se interessou em me lançar como candidata.

Como estou entre maridos, sem ninguém para financiar uma candidatura independente, fui obrigada a procurar alianças com partidos não ortodoxos. (A sede de um deles, acredite, era um bebedouro de praça.)

Estou em conversações com uma coligação anarco-monarquista, e também procurei o PCK, Partido Comunista Kardecista, que alega ser dirigido à distância pelo próprio Lênin, além das duas facções em luta dentro do PMDB, a que apoia o governo seja ele qual for e a que apoia o governo seja ele qual for irrestritamente.


Mas acho que não vai dar. E não vou poder realizar o meu sonho de, durante a minha entrevista, pular por cima da Patrícia Poeta e agarrar o William Bonner. Da tua inconsolável Dorinha”.

Outra carta da Dorinha (5/2/2015)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela sua idade para ninguém, mas nega que já viu o cometa Halley passar duas vezes. Só o Pitanguy e Deus sabem a sua verdadeira idade, e um está aposentado e o outro está quase. Dorinha tem se reunido com o seu grupo de carteado e pressão política, as Socialaites Socialistas, que lutam pela implantação no Brasil do socialismo soviético na sua fase terminal, que é a volta ao feudalismo (mas esclarecido desta vez, segundo elas). As reuniões das Socialaites Socialistas também tratam do trabalho social do grupo.

Por exemplo: todas se comprometeram a doar seus botox para transplante, caso venham a morrer. O assunto predominante nas reuniões, claro, tem sido os escândalos das empreiteiras. Três do grupo estão com maridos presos, o que acham ótimo. “Assim pelo menos a gente sabe onde eles estão dormindo”, diz Suzana (“Su”) Cata, para inveja das que têm maridos soltos. Mas a preocupação maior de todas é... Deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio escrita com tinta púrpura em papel magenta cheirando a “Mange Moi”, um perfume proibido pelo Vaticano, mas que, dizem, o papa Francisco está prestes a liberar.

“Caríssimo! Beijos secos, para poupar saliva. Sim, estamos todas empenhadas na campanha contra o desperdício de água. Senti como o problema é grave quando fiz uma enquete no grupo e se revelou que todas – todas! – estão dando banhos nos seus cachorros com água mineral San Pellegrino. Menos eu, que lavo a ‘Desirée de Goumont’, meu poodle (o nome é maior do que ela), com champanhe rosê.

A Tatiana (‘Tati’) Bitati, vice-líder do grupo, abaixo de mim, acha que devemos começar a pensar num plano D, de dar o fora, se a crise hídrica piorar muito. Ela propõe o exílio e já se informou sobre um condomínio em Miami que só recebe brasileiros fugitivos da crise e tem o nome sugestivo de ‘Bye-bye Brazil’. Nos mudaríamos para lá até que os reservatórios enchessem de novo ou o país virasse um imenso Piauí e não houvesse mais razão para voltar. Mas assez de misère! Como o próximo Carnaval periga ser o último antes do Juízo Final, decidi voltar a desfilar.

Sim, estarei de novo na avenida! Só preciso encontrar meu agogô e meu tapa-sexo. O tapa-sexo foi visto pela última vez na boca da ‘Desirée de Goumont’, que brincava com ele distraída, sem se dar conta do simbolismo da cena. Meu único sentimento é que o Pitanguy não poderá estar ao meu lado, para ouvir o povo aplaudir meu corpo e pedir ‘O autor! O autor!’.

Outra carta da Dorinha (2/3/2017)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, é figura obrigatória no carnaval carioca desde que ele se chamava “tríduo momesco” e o tríduo durava uma semana. Foi Dorinha a primeira a usar um tapa-sexo cravejado no baile do Municipal, na sua fantasia de Catarina da Rússia na Intimidade, embora diga que ainda não era nascida na ocasião. Dorinha andava sumida. Não passara tanto tempo sem dar notícia desde o episódio, nunca bem explicado, do seu desaparecimento na Sierra Maestra, que culminou com sua entrada triunfal em Havana abraçada ao Fidel porque ele jurou que era social-democrata. Seu grupo de pressão e carteado, as Socialaites Socialistas, que luta pela implantação no Brasil do socialismo soviético na sua fase mais avançada, que é a volta ao feudalismo, e que ela chama de sua “ONG soit qui mal y pense”, estava preocupado. Dorinha reapareceria para o carnaval? Agora, temos a resposta. Não, a Sapucaí não viu o umbigo convexo (‘tudo em mim é para a frente”) da Dorinha este ano. Ela está recolhida e... Mas deixemos que ela mesma nos conte. Desta vez, sua carta não veio escrita com tinta lilás em papel turquesa timbrado como sempre, veio escrita a lápis nas costas do envelope. São tempos difíceis para Dora Avante.
“Caríssimo! Beijos secos, porque estou sem liquidez. Sim, sou eu, ou um fac-símile razoável. Desconfio que na minha última plástica se foi o que ainda restava do original. Hoje, o que há de mais autêntico em mim é o botox. Mas o coração é o mesmo. Só vou aceitar um artificial quando for feito pelo Pierre Cardin. Como você sabe, até minhas bolsas de água quente são da Vuitton. No momento, estou na cama com enxaqueca. Não, bandalho, não é o apelido de uma ‘gamine’ do Baixo Leblon. Nunca abandonei a ideia de que transar com o mesmo sexo é como treinar contra o time B. Só recorrerei a isso quando não houver mais homens no mundo, provavelmente na semana que vem. A minha é uma enxaqueca moral, causada pela falta de dinheiro. Estou entre maridos e o último, cujo nome me escapa no momento, levou com ele o que pode haver de mais sagrado num casamento, o cartão de crédito conjunto. Você acredita que quem está sustentando a casa é minha empregada, a Dorileide? Ela sempre guardou o que roubou de mim entre o Bradesco e o Itaú, que é como chama os seus dois peitos, e é de lá que tem saído o dinheiro para o super. Mas se recusou a financiar minha fantasia para sair na Mangueira! Como é odioso o preconceito de classe. Ficarei em retiro em casa e aproveitarei para escrever minhas memórias. Falarei dos escritores que me perseguiam como se eu fosse uma vaga na Academia, dos poetas que beijavam meus pés e dos que eu deixei chegar mais longe, dos escultores que queriam ver meu busto em praça pública e eu dizia ‘Não, pode vir alguém...’. Nunca repeti um amante. Seria como chupar duas vezes a mesma laranja. Tive maridos de todas as correntes políticas, tanto que quando os descrevo é sempre ‘da esquerda para a direita’. Houve o ex-militar (um duro, mas não onde interessava), um ex-guerrilheiro marxista, hoje dono da butique ‘Pum-Pum!’ em Ipanema... E lembrarei todos os políticos que estiveram em meus braços, mesmo – como no caso do Magalhães Pinto – só porque tropeçaram e tive que segurá-los. Contarei tudo. As instituições da República talvez sobrevivam à Lava Jato, mas não sobreviverão à minha enxaqueca. Da tua pobre Dorinha.”


Outra carta da Dorinha (4/5/2017)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela sua idade e diz que não comemora mais aniversário “para não banalizar a data”. Nega, no entanto, que ela e o Ruy Barbosa “ficaram” durante uma festinha no Catete. Depois de tantas plásticas Dorinha está pensando em fazer um teste de DNA para saber se ela ainda é ela, pois desconfia que só o que sobrou de autêntico foi o botox. Dependendo do resultado do teste, se lançará como candidata à Presidência da República, já que a Lava Jato respingou em todos os possíveis candidatos homens e, segundo Dorinha, se a História do Brasil prova alguma coisa é que presidente homem não dá certo. “Cromossomo não é neurônio” é outras das suas frases de campanha; Ela procura o apoio de uma sigla decente, já que as indecentes estão todas comprometidas. Espera formar uma coligação, sendo esta a primeira vez na sua vida em que pede uma aliança sem precisar dizer que está grávida. Sua campanha... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta roxa em papel violeta, cheirando a “Mange Moi”, um perfume condenado pelo Vaticano.

“Caríssimo: beijíssimos! Sim, minha campanha está nas ruas, seguida, por enquanto, apenas pelos cachorros. Nas pesquisas estou empatada com não sabem ou não quiseram opinar. Mas as pesquisas são falhas: ignoram um grande segmento da população, formado por todos os meus ex-maridos. (No momento, por sinal, estou livre como um táxi, e só aceitando corridas curtas). Contratei um marqueteiro para orientar minha campanha, mas o despedi depois que ele sugeriu que eu me apresentasse com os netos, para ganhar o voto coisa mais fofa. Eu sempre disse que netos são iguais às rugas para mostrar a idade, com a diferença que para as rugas tem cremes. Vou cuidar da minha própria imagem na TV, expondo meu ideário político e econômico (por exemplo: sempre achei que não há nada de mal com a concentração de renda se for feita com bom gosto) e os meus seios. Quero ver um candidato homem fazer o mesmo sem recorrer ao silicone. Para concorrer em 2018, só sobrarão candidatos que a Odebrecht não quis comprar, o que nos leva a indagar se não tem algum defeito. Sobrarão candidatos probos e retos. Quer dizer, tão chatos que, quando falam em comícios, o público aplaude microfonia. Enfã, estou na luta e espero o seu voto. Da tua Dorinha”.


Outra carta da Dorinha (16/11/2017)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha continua à frente da sua ONG (ou, como ela chama, “ONG soit qui ma y pense”) as Socialites Socialistas, que luta pela implantação no Brasil do socialismo na sua etapa mais avançada, que é restauração do tzarismo. Dorinha, inclusive, já descobriu um garçom em Braz de Pina descendente dos Romanov que aceita ser tzar pelas gorjetas e desde que conte tempo para o INPS . A ONG é financiada pelo seu quarto marido, cujo nome ela ainda não decorou. Dorinha não revela sua idade. Diz que pegou, sim, o Getúlio Vargas no colo, mas que ele já era presidente na ocasião. E nega que tenha introduzido o biquíni nas praias brasileiras, fazendo o Padre Anchieta errar a métrica. Depois de tantas plásticas Dorinha está pensando em fazer um teste de DNA para saber se ela ainda é ela, pois desconfia que só o que sobrou de autentico foi o botox. Dependendo do resultado do teste, ela se lançará como candidata a presidência da Republica e... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta lilás em papel violeta, cheirando a “Mange Moi”, um perfume proibido em muitos países.

“Caríssimo! Beijos catetéricos. Sim, minha campanha está nas ruas, seguida, por enquanto, apenas por cachorros. Nas pesquisas, estou empatada com os que não sabem ou não quiseram opinar, mas as pesquisas ignoram um grande segmento da população, formado pelos meus ex-maridos. Para concorrer em 2018 só sobrarão candidatos que a Odebrecht não quis comprar, o que nos leva a desconfiar que têm algum defeito. Restarão candidatos tão chatos que quando falam em comícios o publico aplaude microfonia. Estou ditando esta carta de dentro de uma banheira jacuzzi e quem escreve é o meu personal Silvester, que só tem dois problemas com o português, as vogais e as consoantes. Estou pronta para concorrer! Ponto de exclamação, Silvester. Aquele ponto com topete. Conto com os votos dos que não querem o Lula mais na presidência mas também ninguém muito Alckimin. Como se não bastasse tudo isso, tem um redemoinho desta jacuzzi que está começando a ficar muito íntimo, reticências. Três pontinhos, Silvester.



Outra carta da Dorinha  (19/02/2018)

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha diz que as especulações sobre sua verdadeira idade são fantasiosas e que não é verdade que ela tenha levado o champanhe no primeiro voo com passageiro do 14-bis. Seja como for, Dorinha esteve presente em muitos momentos decisivos da nossa história. Teria, inclusive - por circunstâncias nunca bem explicadas daquele período confuso, e que ela mesma se recusa a esclarecer -, ocupado a Presidência da República entre a renúncia de Jânio, o governo provisório de Ranieri Mazzilli e a posse de Jango, durante 15 minutos. 

Dorinha concorda que a política mudou muito nestes últimos anos e não pode evitar uma ponta de saudade da política como era antes. Principalmente no que diz respeito a acusações e ofensas entre políticos, que no seu tempo... Mas deixemos que ela mesma nos diga em sua carta. Que, como sempre, veio escrita com tinta roxa em papel turquesa cheirando a Mange Moi, o único perfume incluído no índex de proibições do Vaticano.

"Caríssimo! Beijos disseminados. Essas brigas no Congresso me trazem à lembrança um dos meus primeiros maridos, que era senador da República. A República eu sei que era o Brasil, mas o resto ficou meio vago. Não lembro o nome do partido e, pensando bem, nem o nome do marido, de quem só guardei o número da conta bancária, pelo valor afetivo. 

Quando ele foi acusado por outro senador de ser ladrão, chegou em casa e trancou-se no gabinete para preparar sua resposta. Azeitou e carregou sua 38 de cano longo, fiel aos seus princípios políticos, segundo os quais ?réplica de macho é tiro?. No dia seguinte, foi ao Senado, pediu a palavra e atirou cinco vezes no seu acusador, matando cinco ao seu redor. O outro respondeu aos tiros com sua 45 e matou mais três, inclusive meu marido. 

Felizmente, nossa conta era conjunta. Em seguida, o presidente do Senado pôs ordem na sessão, atirando para o alto, e, com a briga encerrada, pôde conduzir os trabalhos a contento, depois de retirados os corpos. É preciso lembrar que o Senado então ficava no Rio e quase sempre havia quórum, mesmo com as baixas. Hoje os congressistas se agridem verbalmente e trocam insinuações e ironias em vez de tiros. Quer dizer, não existe mais romantismo, para não falar em argumentos convincentes. Da tua nostálgica Dorinha."


Nenhum comentário:

Postar um comentário