Outro dia vi uma moça comendo um hambúrguer. Foi uma experiência estranha. Estava num bar, e ela sentou-se com uma amiga na mesa ao lado. Eram duas meninas de uns 19 ou 20 anos de idade, magrinhas e branquíssimas, umas sílfides. Fizeram seus pedidos e, minutos depois, chegou aquele hambúrguer.
Nem reparei no prato da outra garota, porque não conseguia desviar o olhar do hambúrguer. Era um troço de pelo menos um palmo de altura. Entre uma fatia de pão e outra eles colocaram o bife, mais bacon frito, queijo, saladas e algumas outras coisas que não consegui identificar, talvez tivesse batata junto. O fato é que era um prato selvagem e alto, muito alto.
Ora, um hambúrguer é um sanduíche. O objetivo dos sanduíches é que sejam comidos com as mãos, dispensando a formalidade do garfo e da faca. Por isso o Conde de Sandwich o inventou. Esse conde era um inglês que adorava uma carpeta. Passava dias e noites na jogatina. Para não abandonar a mesa de jogo e, ao mesmo tempo, saciar a fome, pedia que os criados lhe servissem um bife entre duas fatias de pão. Assim, ele comia com uma única mão, enquanto com a outra segurava as cartas. Os companheiros da roda gostaram da ideia e começaram a pedir o mesmo prato. “Quero aquele do Sandwich”. Assim, sandwich virou sanduíche.
Pois bem. Um hambúrguer é um sanduíche-íche-íche. Tem de ser pego com uma única mão e devorado às dentadas, como o Obelix faz com um pernil de javali. Mas como a menina se sairia com aquela violência entre duas fatias de pão? Pois ela, tão delicada, tão singela, apertou a fatia de cima com a mão esquerda e, manuseando uma faca de bom corte com a direita, dividiu o hambúrguer em duas partes iguais.
Em seguida, comprimiu o mais que pôde uma das metades, fazendo-a ficar com uns quatro dedos de altura. Ergueu-a do prato. E abriu a boca. Mas abriu bem, bem, bem a boca, parecendo um hipopótamo. E então, com naturalidade, olhando sempre para a amiga e rindo do que ouvia a outra falar, introduziu aquele maço de comida entre os dentes, arrancou um pedaço e começou a mastigar com vontade. Fez isso com total serenidade, não se importando nem com a faixa de ketchup que lhe lambuzou a face muito branca.
Fiquei olhando para a cena com inveja. Eu não conseguiria. Francamente, não conseguiria.
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